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Emigração "Fuga de cérebros" leva a perdas de 46 mil euros por aluno
2013-06-30
A "fuga de cérebros" está a conduzir à saída de Portugal de milhares de jovens qualificados, fenómeno nem sempre causado pela crise económica, mas que a acentua, com a perda de um investimento público superior a 46 mil euros por aluno.

A "fuga de cérebros" está a conduzir à saída de Portugal de milhares de jovens qualificados, fenómeno nem sempre causado pela crise económica, mas que a acentua, com a perda de um investimento público superior a 46 mil euros por aluno.

"O Estado não valoriza o capital humano, apenas se preocupa com o capital financeiro", disse à Lusa Armando Pires, professor na Norwegian School of Economics, onde vive há seis anos.

Pires considera que a visão "neoliberal" do governo português baseia-se no pensamento "errado" de que se a gente "vai embora, desce o desemprego e a economia cresce".

Segundo o Tribunal de Contas, num relatório feito a pedido do Parlamento, entre a primária e o ensino secundário, um estudante representa um custo de 46.688,28 euros para o Estado, a que acrescem, em muitos casos, despesas referentes ao ensino superior e a bolsas.

Já os países que acolhem os estudantes portugueses, apesar de não terem investido na sua educação, beneficiam dos seus conhecimentos e, se os jovens não regressarem, Portugal não ganha a experiência que eles adquiriram fora.

A fuga de cérebros constitui um fenómeno que se está a reproduzir num país onde a taxa de emigração qualificada é de 20%, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, a maior da União Europeia, e o desemprego jovem já atinge 42,5%, segundo os últimos dados do Eurostat.

"Nos países com uma taxa de emigração qualificada igual ou superior a 20% do total de licenciados, os custos da fuga de cérebros superam os benefícios", indica Pires.

O professor defende que Portugal não dá suficientes possibilidades de desenvolvimento profissional, porque a economia "tem muito a ver com a antiguidade do trabalhador e predomina um certo nepotismo", pelo que é "difícil" que o capital humano seja valorizado.

Pires assinala que, enquanto Portugal não tiver crescimento, "os benefícios [da emigração] não superarão os custos", pois os emigrantes não quererão voltar.

Cria-se um "círculo vicioso" que não permite a "circulação de cérebros", ou seja, o regresso dos emigrados com os conhecimentos que ganharam fora, adianta.

A Secretária de Estado de Ciência, Leonor Parreira, disse em julho de 2012 que segundo "indicadores do INE e da Direção-Geral de Estatística do Ministério de Educação e Ciência, não há fuga de cérebros".

O professor José Luís Cardoso, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, afirma que não existem informações fiáveis que meçam a fuga de cérebros em Portugal.

Um estudo coordenado por Cardoso conclui, com base nos últimos dados disponíveis (2009, 2010) sobre o grau educacional dos emigrantes portugueses, que, durante os últimos anos, aumentou "o número de indivíduos que trabalha fora para todos os graus do ensino superior", menos os bacharéis.

No ano 2009, 4.586 emigrantes portugueses declaravam ter estudos superiores, enquanto em 2010 o número desceu para 4.143.

"Deixei Portugal com tanta alegria como tristeza", confessa João Manuel Pinto, antigo engenheiro da Portugal Telecom, em declarações à Lusa.

Este engenheiro é um caso atípico de fuga de cérebros, dado que "adorava" o seu emprego e saiu do país "à procura dum sonho": viver no Brasil e chegar lá viajando pelo caminho mais comprido, a Ásia.

"O Brasil é muito rico em termos de cultura e inteligência emocional, e é um dos BRIC", afirma Pinto, sublinhando que no setor das telecomunicações, o paradigma no Brasil "é de crescimento", enquanto em Portugal "copiaram muito do que façam lá".

Pinto decidiu emigrar embora o seu trabalho em Lisboa lhe desse "uma sensação de produtividade muito boa", pelo que quando saiu teve de esforçar-se para "não pensar naquilo que perdia".

De acordo com um estudo realizado pelo grupo GfK, o Índice de Compromisso Laboral dos portugueses é de 62%, menos cinco pontos percentuais face a 2011, dado que reflete que a maioria considera que os empregadores não dão oportunidades de desenvolvimento profissional e indica que abandonariam a empresa se tiverem uma boa oferta noutro lugar, independentemente do salário.

Embora duas em cada três pessoas afirmem ter sofrido cortes nos salários, o estudo mostra que não é apenas a crise económica que está a encorajar os jovens para procurarem emprego fora, mas também "a menor possibilidade de projeção de carreira" em Portugal, de acordo com António Gomes, da GfK.

Notícias ao Minuto, aqui.

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