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Mais oportunidades para portugueses e espanhóis
2012-05-04
Cerca de 13600 trabalhadores vindos de Portugal e Espanha chegaram à Suíça em 2011, um número recorde nos dez últimos anos. A decisão do governo suíço de frear a imigração de oito países da Europa do Leste vai abrir novas oportunidades para os países do sul da União Europeia (UE).

Por Andrea Ornelas, swissinfo.ch

Em 2008, o think tank Avenir Suisse já alertava para o crescimento da imigração de trabalhadores na Suíça.

"A nova política de imigração, que permite a livre circulação de pessoas, e a nova Lei de Estrangeiros vão acelerar a entrada dos trabalhadores, especialmente os altamente qualificados. Eles cobrirão o déficit de mão de obra que existe no mercado de trabalho suíço e contribuirão decisivamente para o crescimento econômico."

Isto é o que o então Avenir Suisse dizia no livro "A nova imigração", que contou com a participação dos pesquisadores e Werner Haug e Daniel Müller-Jentsch. Os números da Secretaria Federal de Estatística (OFS, na sigla em francês) dos três últimos anos confirmam essa previsão.

Entre 2008 e 2011, a população estrangeira na Suíça aumentou em 144.300 pessoas, uma parcela significativa vinda da Europa Oriental, mas também dos países do sul da União Europeia (UE), como Portugal e Espanha.

 

Cláusula de salvaguarda

Há algumas semanas, a Suíça anunciou sua intenção de ativar a cláusula de salvaguarda negociada com Bruxelas para assinar o acordo sobre livre circulação de pessoas. Uma cláusula que lhe permite parar a imigração de trabalhadores europeus se o número de imigrantes torna-se preocupante para o mercado de trabalho suíço. 

Especificamente, o governo suíço começou a limitar, desde primeiro de maio, a entrada ao país de trabalhadores da Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia, Eslovênia e República Tcheca.

A decisão foi baseada em um argumento técnico da Secretaria Federal de Migração (OFM, na sigla em francês): a cláusula de salvaguarda pode ser aplicada se o número de vistos de curta ou longa duração para os trabalhadores dos oito países membros da UE for maior do que 10% da média anual dos vistos concedidos nos três anos anteriores.

"Esta medida envia um sinal claro para mostrar a que ponto chegou o fenômeno migratório nos últimos anos, particularmente em 2011", disse à swissinfo.ch o embaixador da Suíça para a Espanha e Andorra, Urs Ziswiler.

"A Suíça não usou a cláusula há dois anos com relação aos 15 países da UE, porque considerou que não era necessário", acrescenta.

Urs Schüpbach, diretor geral da agência de emprego Manpower Suíça, observa que "esta decisão permitirá à Suíça controlar o número de trabalhadores provenientes destes oito países apenas no período de 1° de maio de 2012 a 2014, no máximo". 

Segundo Schüpbach, o mercado de trabalho suíço não será significativamente afetado, entre outras razões porque "o número de trabalhadores oriundos destes países (Europa Oriental) é baixo quando comparado ao mercado de trabalho suíço geral", disse.

 

Mais portugueses, mais espanhóis

As finanças públicas de Portugal e Espanha estão imersas em programas de austeridade rígidos e as taxas de desemprego dessas economias têm alcançado níveis recordes: 14% e 23% respectivamente. 

De acordo com dados publicados no jornal Le Temps, os quatro países que mais enviaram trabalhadores à Suíça em 2011 foram a Alemanha (12.601), Portugal (11.018), Itália (5.318) e Espanha (2.586). 

Com relação à Espanha, o embaixador Ziswiler disse que "a crise não acabou" e que o país "ainda tem pela frente alguns anos de adaptação, onde o desemprego continuará alto e a competitividade deverá melhorar". Portanto, o espanhol continuará procurando novos caminhos no exterior. 

Em Portugal, a Secretaria Federal de Economia da Suíça (Seco) estima em suas "Tendências conjunturais para 2012" que a migração deve continuar, empurrada pela crise geral na zona do euro e a rigidez do mercado de trabalho português.

 

Mais oportunidades

Que impacto a decisão de limitar a entrada na Suíça dos cidadãos da Europa do Leste vai ter para Espanha e Portugal? 

"Pode facilitar a entrada dos trabalhadores espanhóis na Suíça, porque haverá mais oportunidades de emprego para eles. A livre circulação de pessoas consiste precisamente na existência de um acordo entre duas partes, um contrato de trabalho e, consequentemente, o direito dos cidadãos da UE de residir legalmente na Suíça", diz Urs Ziswiler. 

"Com uma taxa de desemprego que afeta 23% da população economicamente ativa, na Espanha há hoje muita gente procurando trabalho. No passado, a Suíça precisava de mão de obra para a construção e pessoal para a hotelaria. Mas hoje o país precisa principalmente de pessoas qualificadas", diz o diplomata. 

"Os espanhóis, em particular, são bem qualificados. E há grandes engenheiros, programadores e arquitetos que podem desfrutar de boas oportunidades de carreira, só precisam ter conhecimento de outras línguas. Acho que este é um dos principais pontos fracos no campo profissional", acrescenta. 

Enquanto isso, Urs Schüpbach, o diretor da Manpower Suíça, confirma que no setor da construção, há também uma forte presença de trabalhadores portugueses e espanhóis que deve continuar.

 

Andrea Ornelas, swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy

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