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Venezuela: Sempre no coração dos portugueses
2012-01-20
Logo a seguir ao Brasil a Venezuela é o segundo país da América Latina com maior número de portugueses, calculando-se que já tenham sido 500 mil. Hoje segundo os dados oficiais do “Observatório da Emigração” não chegarão aos 300 mil. Seja como for, 75 por cento dessa população é natural da Região Autónoma da Madeira. Um número impressionante dado que na ilha não haverá mais de 250 mil residentes. Em muito menor escala também se podem identificar alguns “áreas” de continentais na Venezuela, nomeadamente do Porto, Coimbra e Aveiro.

Se é verdade que a emigração portuguesa teve o seu início na época dos descobrimentos, a Venezuela é bem um desses exemplos já que há registos de portugueses no território desde 1492. Há historiadores que sustentam também que, em 1496, quando o rei D. Manuel I expulsou de Portugal os judeus que não queriam converter-se ao cristianismo, muitos deles procuraram refúgio na Holanda, tendo partido daqui para as Antilhas Holandesas, nas Caraíbas. A proximidade geográfica determinou a passagem de mais alguns portugueses de Curaçao para a Venezuela.
Apesar de a presença dos portugueses no território só se tornar efetiva no século XVI, alguns historiadores afirmam que a primeira comunidade de portugueses se fixou na região só no princípio do século XVII, já que no ano de 1601 Filipe II de Espanha permitiu que os portugueses circulassem livremente e se estabelecessem nas suas colónias da América - incluindo a Venezuela - com a missão, entre outras, de evangelizar os povos.
Mais tarde, no século das independências latino-americanas, temos o registo de que alguns portugueses lutaram ao lado de Simón Bolívar pela libertação da América Hispana.
Entre outros, o nome de José Inácio de Abreu e Lima, nascido no Brasil em 1794, consta no monumento «La Nación a sus Próceres», localizado numa das principais avenidas de Caracas.

A grande emigração


Depois de uma época marcada pelas lutas políticas internas, António Gusmán Blanco viria a assumir o poder na Venezuela em 1870. Promoveu a imigração europeia, facilitando sobretudo a entrada de pessoas oriundas destas
ilhas para terras venezuelanas. Junto foram alguns portugueses.
Já no século XX, a comercialização do primeiro poço petrolífero da Venezuela pela Caribbean Petroleum Company, em 1914, e o processo de industrialização que se segue, estimularam a chegada de mais uma importante vaga migratória proveniente da Europa, especialmente espanhóis, italianos e portugueses. A partir da década de 1920, foram, uma vez mais, as atraentes condições de emprego na Venezuela que estimularam a chegada de um contingente de trabalhadores portugueses que tinham partido do porto do Funchal, para ir trabalhar nas refinarias de petróleo instaladas na ilha de Curação.
Com a política de imigração do general Eleazar López Contreras, Presidente entre 1836 e 1941, foi aplicado um Plano Global de Modernização Económica que implicava a entrada de trabalhadores estrangeiros provenientes principalmente da Europa, com o fim de responder à procura nos setores da agricultura e da construção com mão-de-obra especializada e com experiência nestas áreas. Mas é entre 1947 e 1957 que podemos falar de um verdadeiro "boom" de imigrantes. Há registo de que durante este período entraram na Venezuela perto de 800 mil imigrantes. 
Duas razões são apontadas: as difíceis condições de vida na Europa do pós-guerra e a política, uma vez mais favorável à imigração europeia, do novo Governo do general Marcos Pérez Jimenes, que governou o país entre 1952 e 1958. Neste ano termina a política de «portas abertas». Razões de índole política mas sobretudo de índole económica levaram o Governo de Rómulo Betancourt a fechar as fronteiras aos imigrantes, principalmente aos europeus cuja mão-de-obra exercia grande pressão sobre o mercado de trabalho interno. De facto, a recessão que se viveu na Venezuela a seguir a 1958 viria a provocar uma taxa de desemprego generalizada no país. Como consequência da nova política de imigração adotada pelo Governo democrático e até 1973, a média relativa à imigração estagna em 13 mil estrangeiros por ano.
No entanto a partir do biénio 1973-1974, e graças ao "boom" petrolífero que ocorreu na Venezuela, o movimento migratório que tinha começado a estagnar a partir de 1958, revigora-se.
A grande maioria é de origem latino-americana mas junto vêm também muitos portugueses também. De facto, com a crise europeia que deriva principalmente do aumento do preço do petróleo, a Venezuela volta a ser um dos destinos preferidos para a emigração portuguesa. Por outro lado, e depois do 25 de Abril de 1974, sabemos que Portugal viveu momentos difíceis em termos institucionais, económicos e políticos. O aumento do desemprego e a desvalorização da moeda, entre outras, são razões apontadas para explicar nesta conjuntura a saída de muitos portugueses.

Novos Tempos


O aumento da despesa pública interna e por consequência do excessivo endividamento levam no principio dos anos 90 a uma deterioração económica e social na Venezuela, registando até revoltas populares de protesto pelo enorme aumento dos impostos decretados na segunda presidência de Carlos Andrés Pérez (1989-1993). E com a crise instala-se uma tal instabilidade que permitiu o golpe de Estado encabeçada em 1992 pelo coronel Hugo Chávez Frias, com a consequente destituição do Presidente Carlos Andrés Pérez em 1993, acusado de corrupção. 
Com a entrada em vigor da nova Constituição da Venezuela em 1999 é reconhecido aos estrangeiros com mais de dez anos de residência no país, o direito ao estatuto da dupla nacionalidade. 
Os hábitos alteram-se e nomes como Teixeira, Silva, Oliveira, Pereira, Mendes, Castro, Machado, Costa, Pinho, entre tantos outros, são já nomes comuns na Venezuela. A inserção dos portugueses na sociedade venezuelana manifesta-se também claramente na elevada afluência e participação dos lusodescendentes nas diferentes escolas e universidades do país; na divulgação permanente dos nomes de Luís de Camões e de Fernando Pessoa; na troca gastronómica que fez dos portugueses adeptos entusiastas da arepa, da empanada de cazón, do pabellón criollo, da chicha. Em contrapartida, os venezuelanos aprenderam a comer bacalhau com azeite e a beber vinho tinto, de preferência um bom vinho português. Alguns historiadores afirmam que foram os portugueses que introduziram os hábitos do pão e da salada, hoje generalizados. 
No campo religioso, vale a pena referir que, num país maioritariamente católico, a fé em Nossa Senhora de Fátima contagia desde há muito o povo venezuelano. Isto torna-se evidente se considerarmos as inúmeras procissões que se realizam no dia 13 de Maio, um pouco por todo o país.    

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