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O poder da diáspora
2011-11-29
Na semana passada o Ministério das Relações Exteriores brasileiro divulgou que a quantidade de estrangeiros a viver no Brasil, em situação regular, aumentou mais de 50% de Janeiro a Junho, passando de 961 mil para 1,5 milhão.

Os que chegaram em maior número foram os portugueses, que aumentaram de 277 mil para 329 mil.

O aprofundamento da crise europeia tem empurrado cada vez mais emigrantes para outras regiões do globo, em particular para o Brasil, que é visto como um Eldorado de oportunidades de emprego. Existem estimativas de uma lacuna de 8 milhões de profissionais qualificados para atender a todas as necessidades do mercado de trabalho brasileiro. O desenvolvimento da Economia brasileira não tem atraído exclusivamente estrangeiros. Os próprios brasileiros têm regressado em massa ao seu país. Em 2005, existiam cerca de 4 milhões de brasileiros a trabalhar no exterior. Em 2011, estima-se que esse número tenha caído para metade, para cerca de 2 milhões de pessoas. Em Portugal, a realidade é bem distinta. Vive-se uma nova era de hiper-emigração, com um êxodo expressivo de jovens e de profissionais qualificados, grande parte em direção ao Brasil. Alguns números apontam para a existência de 5 milhões de portugueses ou luso-descendentes fora de Portugal. Ou seja, quase meio Portugal fora de Portugal.

A nível mundial, estima-se em cerca de 215 milhões o número de estrangeiros fora dos seus países de origem. Se fosse um país seria o quinto maior do mundo, um pouco maior do que o Brasil e menor do que a Indonésia. O que estes números nos evidenciam é a importância das diásporas, fora dos territórios nacionais. O reputado jornal britânico "The Economist" chamou-lhe, na semana passada, a "magia das diásporas".

Aquilo que no passado seriam reservas dispersas da identidade de cada nação, hoje, no mundo líquido-interligado em que vivemos, podem ser poderosas redes de negócio e de inteligência. O "The Economist" destaca os exemplos chinês e indiano, cujas diásporas aportam um desenvolvimento considerável aos seus países de origem. O exemplo brasileiro também é brevemente aludido, no que tange ao ambiente académico. Atualmente existem 3 mil professores brasileiros nos EUA, cuja influência no Brasil é elevada.

Mas a influência das diásporas não se resume apenas às ligações de negócio, académicas ou culturais, que podem ser propiciadas entre pessoas da mesma nacionalidade. Estas comunidades são também uma componente do soft power das nações a que pertencem. Veja-se a importância mundial de destacados portugueses emigrados como Paula Rego, que vive em Inglaterra, e António Damásio, que vive nos EUA. E como eram também os casos de José Saramago ou de Vieira da Silva. O que estes portugueses, e muitos outros, fazem, ou fizeram, pela reputação de Portugal é incalculável.

Nos 5 milhões de portugueses e de luso-descendentes que vivem fora de Portugal existem muitos outros talentos. A Fundação Talento, do jovem empreendedor Tiago Forjaz, identificou músicos, cientistas, ‘chefs', artistas, desportistas, filósofos, banqueiros, atores, realizadores de cinema, arquitetos, escritores e muitas outras profissões, que constituem um enorme ativo para a Portugalidade.

A nação portuguesa tem talento nos quatro cantos do mundo. Num mundo sem fronteiras, ligado em rede, o poder de Portugal não está confinado no seu território. O poder de Portugal está numa rede de 15 milhões de portugueses e luso-descendentes, fortalecida por uma língua, uma cultura, tradições e história comuns. Há que saber construí-la e aproveitá-la.
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Miguel Setas, VP de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil

Económico, aqui.

 

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