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Embaixador e cônsul portugueses denunciam risco de "gueto linguístico" em Toronto
2011-04-24
Toronto, Canadá, 24 abr (Lusa) -- O embaixador de Portugal no Canadá e o cônsul português em Toronto insurgem-se contra a ideia de criação de uma escola especial para alunos portugueses, advertindo que tal será um "gueto linguístico".

A possível criação de uma escola especial para alunos de origem portuguesa com o objetivo de ajudar a combater a taxa de abandono escolar foi anunciada, em meados de março, na imprensa diária de Toronto por uma administradora escolar portuguesa ("trustee") da direção escolar do ensino público de Toronto (o TDSB -- Toronto District School Board), Maria Rodrigues.

A Lusa tentou falar com Maria Rodrigues, que não esteve disponível para qualquer resposta.

A ideia de uma escola para alunos de origem portuguesa surgiu após a divulgação do último relatório do TDSB, que enumera na lista das conclusões, e como parâmetro reincidente, que os alunos que "falam português, espanhol ou somali em casa" figuram entre os que certamente não terminarão os seus estudos secundários.

No período 2004-2009, segundo o relatório, só 66 por cento do total de 103 alunos no 9.º ano que falam português concluíram o liceu.

Trata-se da segunda pior taxa de graduação da TDSB, a seguir aos alunos falantes de somali (67,5%) e antes dos de espanhol (57,8%).

O embaixador de Portugal no Canadá, Pedro Moitinho de Almeida, referiu que a mediatização de dados sobre o insucesso escolar de alunos de origem portuguesa originou "uma tentadora atribuição de uma etiqueta de conotação negativa à comunidade [portuguesa] em geral".

O embaixador frisou à Agência Lusa que "não é possível aferir com rigor qual a verdadeira situação do abandono escolar de alunos de origem portuguesa em Toronto, no Ontário ou no Canadá", por não existirem estudos com dados completos e aprofundados.

Por seu lado, o cônsul português em Toronto, Júlio Vilela, embora reconheça que possam existir problemas de desempenho escolar por parte de alunos de origem portuguesa, salientou à Lusa que "não é pela via de criação de um gueto linguístico que se melhora o desempenho escolar dos alunos. É pela via da integração".

"Não tenho a informação de que tal projeto exista. O que há atualmente é um grupo de trabalho criado e que por nossa sugestão irá incluir a Coordenação do Ensino de Português [no Canadá], o qual irá avaliar a situação, ver o que está na origem do problema e sugerir medidas que podem ser tomadas a médio prazo", asseverou Júlio Vilela.

Junto da comunidade portuguesa, o projeto recebe igualmente duras críticas.

O mais antigo administrador escolar português no Canadá, Eduardo Viana, considerou que "não é uma boa ideia separar os alunos e vai prejudicar a imagem da comunidade portuguesa".

"Na nossa comissão escolar [Halton-Oakville] temos 30 mil estudantes, dos quais cerca de cinco mil de origem portuguesa e felizmente não temos portugueses com necessidades especiais de ensino por mau aproveitamento escolar", disse.

Nellie Pedro, que foi administradora escolar no TDSB de 2000 a 2003, manifestou-se contra a ideia, contestando, desde logo, o critério baseado na etnicidade utilizado pelo TDSB para fazer o estudo.

"As notícias sobre esse estudo só têm o efeito de rotular todas as crianças de origem portuguesa, com a mensagem de que não vale a pena investir nelas pois já se sabe que irão falhar. Esquece-se até que elas são canadianas", disse.

EF.

Lusa, aqui.

 

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