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"El Dorado" angolano começa a perder brilho, mas ainda atrai muitos portugueses
2010-06-09
Os sinais de que Angola está a deixar de ser o “El Dorado” para quem em Portugal procura fugir ao desemprego são cada vez mais visíveis, mas os portugueses no país, apesar das dificuldades, dizem que ainda vale a pena.

Esses sinais surgem do ‘boca a boca' na comunidade portuguesa em Angola, maioritariamente concentrada em Luanda, onde todos conhecem novos casos de portugueses que foram obrigados a deixar o país devido ao impacto da crise nas empresas onde estavam colocados.

Angola viveu de 2002, ano em que a guerra acabou, até 2008, num ambiente de crescimento económico fulgurante, sempre acima dos dois dígitos, o que levou a um aumento importante deimigrantes portugueses no país.

Com a quebra do preço do petróleo, que é o motor da economia, começaram a surgir os primeiros casos de regressos forçados e, como confirmou à Lusa a cônsul geral de Angola em Lisboa, Cecília Baptista, a uma acentuada diminuição da procura de vistos para o país.

De 2006 a 2009, segundo dados consulares em Angola, cerca de 30 mil portugueses chegaram ao país para trabalhar e, atualmente, estão inscritos cerca de 70 mil portugueses, mas como a inscrição consular não é obrigatória, a estimativa é que por cada inscrito exista um que não o faz.

Meblo Esmail, empresário português na área do mobiliário, chegou a Luanda há oito anos e recorda: "Quando cheguei nada tinha a ver com os dias de hoje. Nasci em África, em Moçambique, onde vivi os primeiros 16 anos. E Quando aqui cheguei, apesar de conhecer bastante bem África, a primeira impressão foi muito forte. Esperava ver Luanda mais desenvolvida".

"Mas tudo se alterou nos últimos anos, melhorou a oferta a todos os níveis, na hotelaria, saúde, produtos básicos... está tudo a melhorar, lentamente, mas está a melhorar", sustenta.

Exemplo distinto é o de Carlos Pinto, que chegou a Angola como militar, era comando, e ficou, tendo mesmo, após a independência, integrado as Forças Armadas Angolanas. Mas foi nos negócios, ligados à oftalmologia, que encontrou a razão para permanecer no país.

Para ilustrar a forma como se construiu a ideia do "El Dorado" angolano, Meblo Esmail lembra que "ainda há três anos" não conseguiu contratar um fiel de armazém por cinco mil dólares, três viagens/ano, casa e carro e hoje, "sobram as ofertas para trabalhar por 2500 dólares".

E Carlos Pinto acrescenta: "As coisas não estão assim tão bem, sei de muitas empresas, na maioria construtoras, que tinham muitos portugueses e que neste momento os estão a despedir por causa das dificuldades".

Apesar disso, tanto Meblo Esmail, como Carlos Pinto, apontam a sociedade angolana como acolhedora para os portugueses onde estes se dão bem, ou porque "a alimentação, o clima e a cultura" os aproxima, ou porque "todo o português que vem para Angola tem cá um amigo".

Todavia, o empresário do mobiliário não encontra só facilidades: "As dificuldades aqui são muitas, do ponto de vista profissional, porque se em Lisboa fazia cinco ou seis entregas por dia, aqui, porque não há espaço para estacionar, faço uma "ou duas no máximo. Se em Lisboa tinha meia dúzia de colaboradores, aqui tenho 40...".

E, por isso, deixa um recado para qualquer português que queira ir para Angola: é preciso "sentir-se minimamente africano".

i online, aqui.

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