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Há toda a vantagem em aprender português
2009-11-19
Ana Costa é a nova coordenadora do serviço de ensino do português no Luxemburgo. Professora de língua portuguesa e francesa há 18 anos, a coordenadora está nesta altura a fazer o doutoramento em "Emigração - Capacidades e dificuldades da linguagem". Sendo filha de emigrantes portugueses na Alemanha, Ana Costa valoriza a aprendizagem do português e confessa gostar de desafios.

Correio: Considera importante as crianças portuguesas residentes no estrangeiro terem acesso à aprendizagem da língua portuguesa?
Ana Costa: É claro que sim. É um direito que se encontra consagrado na Constituição Portuguesa. Os meus pais foram emigrantes e na altura não existia o ensino do português na Alemanha. Pretendo, por isso, dar o meu contributo aos filhos dos emigrantes.
C.: Com quantos alunos conta o ensino do português no Luxemburgo?
A.C.: Cerca de 5.000 alunos. Mas o Luxemburgo é particular porque há bastante ensino integrado, o que nos cria também algumas dificuldades porque temos de seguir o projecto que o Ministério da Educação luxemburguês criou. Existe uma diferença entre o ensino integrado e o paralelo. No integrado ensina-se história, geografia ou ciências da natureza, mas em língua portuguesa. Enquanto os outros alunos têm essa disciplina em alemão ou em francês, os nossos alunos têm essa disciplina na língua materna. Só o ensino paralelo é que funciona como uma formação em língua e cultura portuguesa.
C.: Qual dos dois sistemas revela melhores resultados?
A. C.: Depende. O ensino integrado só funciona no primeiro ciclo. Mas, no ensino integrado está-se a notar uma diminuição dos alunos porque, como eles têm dificuldades em alemão e em francês, há pais que acham melhor tirá-los das aulas de língua portuguesa. Têm medo que eles fiquem retidos. Nós não temos essa visão. As pessoas em idades inferiores conseguem aprender várias línguas ao mesmo tempo. O ensino paralelo funciona em horário pós-escolar.
C.: Quais as maiores lacunas que encontra no sistema de ensino do português no Luxemburgo?
A.C.: Sentimos algumas dificuldades, nomeadamente na elaboração dos horários da rede escolar. Temos dificuldades em coordenadar os horários dos nossos professores do integrado porque tem estado ao critério dos professores luxemburgueses fazerem-nos. A coordenação de ensino está a realizar contactos para que os professores portugueses sejam integrados na laboração desses horários. No ensino integrado também há professores a trabalharem em vários locais muito distanciados. Portanto, isto é outro problema. Também algumas salas e horários não são adequados.
C.: O Estado português tem interesse em dar continuidade ao ensino do português no estrangeiro?
A.C.: Obviamente que o estado português tem interesse.
C.: Mas o estado português sofre pressões nesse sentido...
A.C.: É claro que sofre, mas obviamente que isso não passa pela "cabeça", digamos, das pessoas responsáveis pelo Ministério da Educação acabar com o ensino do português no estrangeiro porque se trata da divulgação da nossa língua e cultura e da integração. O ensino do português faz a ponte entre os nossos alunos e a nossa comunidade com a comunidade do país de acolhimento. O que acontece é que por vezes as pessoas não têm as condições necessárias para trabalhar. Mas isso tem a ver com os acordos concluídos entre Portugal e os países onde existe o ensino do português. Isto implica uma despesa enorme para o Estado português, é claro. Mas está fora de questão terminar com o ensino do português no estrangeiro. Isso seria o caos!
C.: Como descreve a comunidade portuguesa no Luxemburgo?
A.C.: Parece-me bastante diversificada. Quer-me parecer que é bastante jovem, ao contrário de outros países, e bastante activa. Eu já estive noutros países e nunca vi tantos restaurantes, tantas organizações portuguesas como aqui.
C.: Existe a colaboração por parte das autoridades luxemburguesas no ensino do português?
A.C.: Temos feito variadíssimas actividades e eles têm sido bastante receptivos ao diálogo. Já tive várias reuniões com o Ministério da Educação, nomeadamente com o serviço de alunos estrangeiros e emigração. Também já tive a oportunidade de falar com a ministra da Educação e parece-me ser uma pessoa bastante acessível, simpática e que quer colaborar connosco. Eu não tenho qualquer queixa, à parte de algumas pequenas divergências com um ou outro burgomestre, mas nada de especial.
C.: Quais as mais-valias para os luso-descedentes que inserem os cursos de português?
A.C.: Em primeiro lugar, eu costumo dizer que nós somos aquilo que é a nossa língua, o nosso país. Como dizia Virgílio Ferreira: "Com a minha língua vejo o mar". Obviamente que são jovens, alguns já nasceram cá, já têm bastante influência do país e estão integrados, outros não. Entendo que há toda a vantagem, não só em aprender português mas qualquer língua. Mesmo se para alguns o português já não é a sua língua materna, é a língua dos pais, do seu país, da sua cultura. Por exemplo, se eles quiserem prosseguir estudos em Portugal, eles terão obrigatoriamente de (e alguns esquecem-se disto) saber o português. O acesso ao ensino superior tem um contingente ao qual podem concorrer os luso-descendentes, mas os exames decorrem em língua portuguesa.
C.: Os portugueses que prosseguem os seus estudos a nível superior optam mais pelas universidades francesas ou belgas, em detrimento das portuguesas. Pensa que isto se possa relacionar com problemas linguísticos ou por falta de informação?
A.C.: Certamente que falta de informação não é porque estamos sempre presentes na feira do estudante para esclarecer os alunos sobre o acesso ao ensino superior. Também estamos sempre disponíveis para encaminhar os alunos. Acontece que a maioria dos alunos não frequenta o ensino do português e neste caso a língua poderá ser um entrave. Outra hipótese pode ser a questão de proximidade. De viverem aqui e não pensarem em regressar a Portugal..
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