Title Exílios. Testemunhos de Exilados e Desertores Portugueses na Europa (1961-1974)
Authors Ana Rosenheim, António Paiva, Carlos Estevão, Carlos Neves, Carlos Ribeiro, Fernando Cardeira, Fernando Cardoso, Hélder Mateus da Costa, Irene Pimentel, Joaquim Saraiva, Jorge Leitão, José Torres, Manuel Branco, Maria Irene Martins, Merita Andrade, Rui Bebiano, Rui Guimarães, Rui Mota, Teresa Couto, Teresa Perdigão, Tino Flores e Vasco Martins
Publisher AEP61-74, Associação de Exilados Políticos Portugueses
Date 2015
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Abstract
Nasceu este projecto de conversas entre amigos e antigos camaradas que pensaram ser importante dar a conhecer memórias e histórias do seu exílio. Um projecto tão antigo como o 25 de Abril. Morreu um de nós e resolvemos, em silêncio, ‘enterrar’ o projecto com ele. Não deliberámos em conjunto, mas sabíamos que esta era a melhor opção. Durou anos, o nosso ‘luto’. Os arquivos foram acumulando poeira, as memórias ficando mais cinzentas, um doce e acre esquecimento pousado nas prateleiras. Com os protagonistas de uma parte da história portuguesa recente esquecidos, tudo estava em paz. Há um ano e meio atrás, o projecto ‘ressuscitou’. De forma quase espontânea, gerou-se um movimento de recolha e troca de experiências, com o fim de dar a conhecer esta vivência, que poucos experimentaram e muitos desconhecem: as dificuldades, os momentos dolorosos e felizes, a festa, a revolta, a saudade de uma pátria triste e violenta. Falar, dizer, escrever, o livro do exílio. Falar, de uma Europa de cidadãos solidários com a nossa causa e com as nossas paixões. Escrever, sobre o ‘aperto de coração’ quando a ‘salto’ nos aventurámos num país e numa língua desconhecida que aprendemos na boca de ouvir e amar. Escrever, sobre a nossa experiência nos frios do Norte do sol escondido, com o Mediterrâneo tão longe. Escrever todas as cartas, por dizer, a nós próprios e aos amigos. Escrever sobre um passado longínquo, que hoje nos interpela e que queremos seja ouvido. Este livro está orientado para Norte: de França à Suécia, passando pela Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Dinamarca. À semelhança dos exilados que viajaram na mesma direcção. No subtítulo deste livro, sublinha-se que são ‘testemunhos de exilados e desertores na Europa (1961-1974)’. São vinte e dois autores que falam de exílios, clandestinidades, nomes de guerra, disfarces, incomunicabilidades, pensamentos estanques, vidas duplas e triplas, histórias de vida. O indizível, expõe-se. Foram anos difíceis, os do exílio. As histórias que se seguem, dão conta disso. Sem alardes heróicos, sem falsas modéstias. Histórias nuas e cruas de uma geração que não pactuou com o regime fascista nem com a guerra colonial. Quem escreveu este livro, são homens e mulheres que participaram de forma activa neste universo, actuando nos territórios de exílio em coerência com a sua opção de recusar umas forças armadas, envolvidas na guerra colonial e, simultaneamente, junto das comunidades emigradas na Europa, denunciando a carácter fascista e colonialista do governo português. As mulheres têm aqui um lugar especial. Não sendo naturalmente ‘desertoras’ do exército, pautaram a sua condição de exiladas, numa escolha que foi sua, por uma intervenção militante muito próxima dos desertores e refractários. Os seus testemunhos completam e revisitam muito daquilo que os seus camaradas e companheiros de então, nos relatam nos seus textos. Ler o que aqui se conta, permite-nos superar a mera enunciação das escolhas políticas, partilhadas por todos e comuns a tantos outros jovens, que escolheram a via do exílio para não fazer a guerra e continuar o combate. Reconhecendo o seu quotidiano e, através desse conhecimento, poder confirmar que o caminho que escolheram não foi o mais fácil. Foi uma geração que saiu, para voltar, com a ideia de poder derrubar um regime podre e repressivo, policial e agressor. Uma geração anti-militarista, nem sempre compreendida pelos militares que fizeram a revolução, para quem a deserção foi um assunto ‘tabu’. De facto, quando na noite do 25 de Abril, vimos nas televisões europeias as imagens da Junta de Salvação Nacional, tememos o pior. Aquelas figuras fardadas, de óculos escuros, recordavam-nos situações semelhantes de outros golpes militares noutros continentes. Mas não foi assim. A prova é a publicação deste livro. 25 de Abril, sempre!