O que é necessário
mudar nas políticas para a emigração - nomeadamente nas questões relacionadas
com o ensino da língua portuguesa, o apoio consular e o apoio social aos
portugueses no estrangeiro? E o que deve ser continuado?
Falta hoje, sobretudo, uma política de aproximação às nossas comunidades. Por
vezes, dá a impressão que os membros do Governo têm medo de se relacionarem com
os mais diversos membros da nossa enorme Diáspora. Para além de alguns membros
de uma ou outra elite, o Governo deixou de contactar com as nossas comunidades,
com as suas associações, as suas escolas, os seus órgãos de comunicação e os
seus membros mais anónimos. Por isso, a primeira grande mudança que faz sentido
levar por diante é a alteração radical da postura dos membros do Governo, que
deverão ser muito mais abertos e dialogantes com as nossas mais diversas
comunidades. A partir deste ponto as mudanças nas políticas específicas para as
comunidades de que são exemplo o ensino da nossa Língua e os serviços
consulares, mudarão naturalmente adoptando-se medidas que garantam o
envolvimento e a cumplicidade dos agentes e das instituições mais dinâmicas na
escolha das soluções mais adequadas a cada comunidade.
Que importância representam actualmente as comunidades portuguesas para
o país e que mais-valias ainda poderão trazer?
A importância para o País é enorme e poderia ser ainda maior se não tivessem
sido tomadas por parte do actual Governo medidas profundamente negativas para o
interesse nacional como por exemplo a extinção das contas poupança emigrante ou
do porte pago para o envio jornais e outras publicações portuguesas para o
estrangeiro.
Porém, apesar dos erros cometidos, a verdade é que as nossas comunidades
encerram um potencial extraordinário no domínio da divulgação da imagem do País
e da nossa Cultura e na promoção dos produtos e interesses nacionais. Por
exemplo, a nossa principal actividade económica, o turismo, beneficia
enormemente dos contributos dos nossos emigrantes, que são igualmente decisivos
para garantir algum equilíbrio das nossas contas públicas, através da remessa
de quase 2,5 mil milhões de euros por ano para Portugal.
A que questões pretende dar prioridade na Assembleia da República?
É minha intenção dar continuidade à acção desenvolvida neste primeiro mandato
em representação das nossas comunidades, que agora estamos a terminar,
retomando propostas que já são do domínio público de que posso destacar a
atribuição da nacionalidade portuguesa por efeito de vontade aos netos dos
nossos emigrantes, a reforma do ensino do Português através do seu alargamento
à generalidade dos países de fora da Europa, da contratação local de
professores já inseridos nas nossas comunidades e da articulação de acções com
as instituições de ensino que já existem em muitos países, a modificação das
políticas de apoio aos portugueses mais carenciados e mais expostos a situações
de exploração através do envolvimento de instituições e associações locais e
igualmente ao fomento de políticas que apostem numa maior participação de
jovens e de mulheres na nossa vida cívica e política.
O que pretende privilegiar durante a campanha eleitoral?
Para mim, há muito que a campanha se faz essencialmente ao longo do mandato,
quer no domínio da intervenção e da iniciativa parlamentar, quer no plano do
contacto com as mais diversas comunidades. Por isso, nos próximos dias
limitar-me-ei a fazer algumas reuniões de final de mandato e alguns contactos
com várias comunidades de maior dimensão, que me permitam sobretudo falar e a
contactar com muita gente.
O que é preciso mudar na visão que os governantes, e
os políticos em geral, têm das comunidades portuguesas?
Importa essencialmente que os nossos políticos reconheçam que todos somos
portugueses, independentemente do local onde nos encontremos, e que, portanto,
devemos todos ter os mesmos direitos, obrigações e oportunidades. Só assim
garantiremos a mudança de políticas que apontem no sentido de estarmos todos
mais próximos uns dos outros e de as nossas Comunidades serem olhadas como
merecem.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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