THORNTON, California (AP) - Era suposto ser uma
tourada sem derramamento de sangue, uma dança perigosa entre um matador e um
touro enraivecido que não resultaria em morte.
Mas desta vez, esta tradição portuguesa
durante uma festa religiosa acabou por derramar sangue.
Enquanto o matador levantava uma curta
lança para enfiar no pescoço do touro, um investigador da protecção animal
correu para a praça dos touros, suspeitando que a ponta escondesse ilegalmente
aço farpado que pudesse espetar no touro.
Espectadores apanharam o intruso, e uma
briga sangrenta mandou um San Joaquin County Sheriff's deputy para o hospital e
dois homens para a prisão.
Este episódio em Maio reacendeu uma luta
que existe há anos entre os admiradores de touradas e os protectores do bem
estar animal que afirmam o ritual e crueldade animal mascarada como um teatro
religioso.
"Os portugueses perguntam como é que
estes activistas dos direitos dos animais podem interromper um evento legal sem
sofrerem consequências," disse Frank Sousa, director do Centro dos Estudos
Portugueses do University of Massachusetts Dartmouth. "Eles sentem que a
sua cultura está a ser desrespeitada. Qual é a diferença entre um rodeo
americano?"
Quando os legisladores do Estado da
California proibiram a morte dos touros nas touradas em 1957, eles criaram uma
excepção para as touradas portuguesas se forem parte de celebrações religiosas,
a única excepção nos Estados Unidos.
Desde então, todos os verões 20 vezes no
California's Central Valley, matadores a cavalo correm atrás dos touros até
estes ficarem exaustos , provocando-os com capas vermelhas. Na última luta,
equipas de homens conhecidos como "suicide squads" interrompem o
touro e agarram-lhe o rabo pela praça fora.
Activistas do direito animal dizem que não
há nada religioso numa tourada e que querem leis que pelo menos permita a
presença de veterinários durante a tourada.
"Quando chega ao ponto de criarem
estas touradas, fingirem que é religioso, e depois torturam e abatem os touros,
aí eu tenho um grande problema," disse advogado David Casselman da
organização sem fins lucrativos Animal Cruelty Investigatores, cujos agentes
controlam as lutas.
A Comunidade Portuguesa que faz parte da
poderosa indústria leiteira do estado, está-se a preparar para uma luta de
relações públicas sobre uma tradição do Velho Mundo que se está a perder numa
sociedade moderna.
"Precisamos defender as nossa
tradições," disse José Avila, editor do Portuguese Tribune, um dos maiores
jornais portugueses nos Estados Unidos. "Eu entendo que algumas pessoas
não gostam de touradas, da mesma maneira que eu não gosto de boxing, mas
aceitamos a diferença, certo?"
Avila, cujo papel cobre quase todas as
lutas na California's Central Valley, ligou a relação entre o matador e o touro
à arte da pintura. Ele disse que os touros são bem tratados e criados como reis
em preparação para a missão da sua vida: uma única caminhada na praça dos
touros.
Depois da luta, eles se tornam espertos,
perigosamente imprevisíveis e são mortos para alimento.
Se as touradas são um exercício religioso
tem sido discutido desde 1981. Nessa altura o Estado Procurador Geral George
Deukmejian disse que as lutas teriam de ser uma parte integrante da missa, que
deve ocorrer num terreno consagrado, para cumprir a lei.
"É uma loucura o que se passa nestes
lugares," disse Andrew Stewart, investigador para a protecção animal do
ACI que parou a luta em Maio.
Ele tinha recebido reclamações que as
touradas sangrentas por profissionais da Espanha, Portugal e México era tudo
menos touradas sem derramamento de sangue. Uma semana antes da luta em
Thornton, ele encontrou 30 lanças farpadas numa tourada no concelho de Los
Angeles, onde agora autoridades estão a investigar possíveis violações das leis
contra a crueldade animal.
Em relação á tourada em Thornton, alegações
de crueldade animal não poderiam ser sustentadas porque alguém conseguiu fugir
com as lanças farpadas antes das autoridades as inspeccionar, disse San Joaquin
County Vice Procurador Distrital Robert Himelblau.
Um espectador acusado de assaltar um
policia com uma lata de lixo vai ter o seu cadastro limpo se ele não se meter
em problemas durante um ano.
Neste momento, estamos simplesmente a dizer
que isto é mau. Já acabámos." disse Himelblau, nada que a lei de ampla
margem às práticas religiosas se isso significa o tratamento de cobras pelos
Appalachian ou os sacrifícios animais praticados pelos Santeria.
A Sociedade Humanitária dos Estados Unidos
tem investigado as touradas des-de 1976 e acredita que tais touradas não
cumprem leis estaduais, mas oficiais tem tido dificuldades em encontrar um
advogado disposto a perseguir.
"Fomos informados por um procurador
distrital que ele era incapaz de enfrentar um padre," disse Eric Sakach o
senior law enforcement specialist do grupo. "Num contexto cultural e
sociológico, torna-se uma historia interessante.
"Deve abrir a questão de como nós
tratamos os animais e as desculpas que usamos para os tratar mal," disse
ele.
A recente pesquisa minuciosa da tradição
portuguesa fez com que os admiradores das touradas temessem que a sua
comunidade está a perder influência política.
"Nos velhos tempos nós convidávamos
membros do congresso, Prefeitos, Xerifes, todas estas pessoas, mas por alguma
razão que não compreendemos, nós parámos de o fazer," disse Avila.
"Talvez durante 20 anos nós perdemos contacto com os poderes políticos, e
vemos agora que isso não foi bom."
O Jornal, aqui.