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Briga na tourada renova o debate da crueldade
2009-08-21

THORNTON, California (AP) - Era suposto ser uma tourada sem derramamento de sangue, uma dança perigosa entre um matador e um touro enraivecido que não resultaria em morte.
      Mas desta vez, esta tradição portuguesa durante uma festa religiosa acabou por derramar sangue.
      Enquanto o matador levantava uma curta lança para enfiar no pescoço do touro, um investigador da protecção animal correu para a praça dos touros, suspeitando que a ponta escondesse ilegalmente aço farpado que pudesse espetar no touro.
      Espectadores apanharam o intruso, e uma briga sangrenta mandou um San Joaquin County Sheriff's deputy para o hospital e dois homens para a prisão.
      Este episódio em Maio reacendeu uma luta que existe há anos entre os admiradores de touradas e os protectores do bem estar animal que afirmam o ritual e crueldade animal mascarada como um teatro religioso.
      "Os portugueses perguntam como é que estes activistas dos direitos dos animais podem interromper um evento legal sem sofrerem consequências," disse Frank Sousa, director do Centro dos Estudos Portugueses do University of Massachusetts Dartmouth. "Eles sentem que a sua cultura está a ser desrespeitada. Qual é a diferença entre um rodeo americano?"
      Quando os legisladores do Estado da California proibiram a morte dos touros nas touradas em 1957, eles criaram uma excepção para as touradas portuguesas se forem parte de celebrações religiosas, a única excepção nos Estados Unidos.
      Desde então, todos os verões 20 vezes no California's Central Valley, matadores a cavalo correm atrás dos touros até estes ficarem exaustos , provocando-os com capas vermelhas. Na última luta, equipas de homens conhecidos como "suicide squads" interrompem o touro e agarram-lhe o rabo pela praça fora.
      Activistas do direito animal dizem que não há nada religioso numa tourada e que querem leis que pelo menos permita a presença de veterinários durante a tourada.
      "Quando chega ao ponto de criarem estas touradas, fingirem que é religioso, e depois torturam e abatem os touros, aí eu tenho um grande problema," disse advogado David Casselman da organização sem fins lucrativos Animal Cruelty Investigatores, cujos agentes controlam as lutas.
      A Comunidade Portuguesa que faz parte da poderosa indústria leiteira do estado, está-se a preparar para uma luta de relações públicas sobre uma tradição do Velho Mundo que se está a perder numa sociedade moderna.
      "Precisamos defender as nossa tradições," disse José Avila, editor do Portuguese Tribune, um dos maiores jornais portugueses nos Estados Unidos. "Eu entendo que algumas pessoas não gostam de touradas, da mesma maneira que eu não gosto de boxing, mas aceitamos a diferença, certo?"
      Avila, cujo papel cobre quase todas as lutas na California's Central Valley, ligou a relação entre o matador e o touro à arte da pintura. Ele disse que os touros são bem tratados e criados como reis em preparação para a missão da sua vida: uma única caminhada na praça dos touros.
      Depois da luta, eles se tornam espertos, perigosamente imprevisíveis e são mortos para alimento.
      Se as touradas são um exercício religioso tem sido discutido desde 1981. Nessa altura o Estado Procurador Geral George Deukmejian disse que as lutas teriam de ser uma parte integrante da missa, que deve ocorrer num terreno consagrado, para cumprir a lei.
      "É uma loucura o que se passa nestes lugares," disse Andrew Stewart, investigador para a protecção animal do ACI que parou a luta em Maio.
      Ele tinha recebido reclamações que as touradas sangrentas por profissionais da Espanha, Portugal e México era tudo menos touradas sem derramamento de sangue. Uma semana antes da luta em Thornton, ele encontrou 30 lanças farpadas numa tourada no concelho de Los Angeles, onde agora autoridades estão a investigar possíveis violações das leis contra a crueldade animal.
      Em relação á tourada em Thornton, alegações de crueldade animal não poderiam ser sustentadas porque alguém conseguiu fugir com as lanças farpadas antes das autoridades as inspeccionar, disse San Joaquin County Vice Procurador Distrital Robert Himelblau.
      Um espectador acusado de assaltar um policia com uma lata de lixo vai ter o seu cadastro limpo se ele não se meter em problemas durante um ano.
      Neste momento, estamos simplesmente a dizer que isto é mau. Já acabámos." disse Himelblau, nada que a lei de ampla margem às práticas religiosas se isso significa o tratamento de cobras pelos Appalachian ou os sacrifícios animais praticados pelos Santeria.
      A Sociedade Humanitária dos Estados Unidos tem investigado as touradas des-de 1976 e acredita que tais touradas não cumprem leis estaduais, mas oficiais tem tido dificuldades em encontrar um advogado disposto a perseguir.
      "Fomos informados por um procurador distrital que ele era incapaz de enfrentar um padre," disse Eric Sakach o senior law enforcement specialist do grupo. "Num contexto cultural e sociológico, torna-se uma historia interessante.
      "Deve abrir a questão de como nós tratamos os animais e as desculpas que usamos para os tratar mal," disse ele.
      A recente pesquisa minuciosa da tradição portuguesa fez com que os admiradores das touradas temessem que a sua comunidade está a perder influência política.
      "Nos velhos tempos nós convidávamos membros do congresso, Prefeitos, Xerifes, todas estas pessoas, mas por alguma razão que não compreendemos, nós parámos de o fazer," disse Avila. "Talvez durante 20 anos nós perdemos contacto com os poderes políticos, e vemos agora que isso não foi bom."

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