De férias em Portugal, os portugueses que residem no
estrangeiro temem os preços altos e trazem o objectivo de gastar o menos
possível, num país onde se vive pior do que naqueles que eles escolheram para
trabalhar e agora ainda mais por causa da crise, como relataram à Agência Lusa.
O fim-de-semana que marcou o início da segunda quinzena de Agosto foi de
partidas e chegadas em
Vilar Formoso, porta de entrada que recebe nesta altura do
ano milhares de emigrantes, que enchem os depósitos no último posto de
combustível espanhol e param no primeiro café em Portugal.
Jorge e Cristina Serra vivem com a filha Matilde nos
arredores de Paris, onde todos nasceram, e preparam-se para visitar os dois
lados da família, na Figueira da Foz e em Pinhel. "Vamos tentar gastar menos e,
desta feita, não vamos para o Algarve para podemos jantar mais vezes fora",
revelou Jorge Serra, consciente "dos altos preços dos combustíveis e dos baixos
salários em Portugal".
"A classe média e a baixa também está a sofrer em França", afirmo Jorge Serra,
que é funcionário de uma empresa de telecomunicações móveis. A mulher trabalha
numa pequena empresa de software. O casal não pensa trocar França por Portugal,
porque lá há melhores condições de vida e um sistema de saúde mais eficiente.
Quem acredita num regresso mais cedo é Noémia Reis, 57 anos, emigrante em França. Natural de
Aljustrel, Fátima, a emigrante, empregada de limpeza, completa agora 35 anos no
país, onde estão os seus três filhos e os três netos, e assegura que não será a
crise a impedi-la de regressar. "Em Portugal, sinto-me mais alegre. Lá é
casa-trabalho-trabalho-casa", assegurou Noémia Reis à Lusa, explicando que vê
em Portugal um país "mais avançado", mas muito caro e com um serviço de saúde
que gostaria que fosse igual ao de França.
Já de férias em Portugal, Abel Silva, 54 anos, que há 19 trocou uma pequena
aldeia da freguesia de São Mamede, no concelho da Batalha, pelo Canadá, sente
que "tudo melhorou um pouco" em Portugal, mas "continua a ganhar-se mal".
"Ganha-se pouco e as coisas estão caras", constatou, acrescentando que "todas
as pessoas se queixam", uma situação que atribui à crise.
Abel Silva adiantou que, embora "as pessoas tentem poupar alguma coisa", a
crise é um impedimento. Quanto a um hipotético regresso a Portugal, o emigrante
não tem dúvidas: "Com a minha idade não é fácil arranjar emprego". Por isso,
adia para uma idade mais próxima da reforma a possibilidade de refazer a vida em Portugal.
Idêntica opinião tem Sérgio Crespo, para quem "neste momento,
não há nada a esperar de Portugal". O português de 30 anos, residente há dois
anos em Reading, Inglaterra, diz que não vê perspectivas de melhoras da
economia portuguesa porque "depende muito de outros países".
Salários baixos afastam regresso
Os emigrantes também apontam os baixos salários, o baixo padrão de vida em
relação aos outros países da Europa, a falta de estrutura dos serviços básicos
fornecidos pelo Estado, sobretudo na área da saúde, e o baixo valor das
reformas como alguns factores para continuarem a trabalhar no estrangeiro.
"Os ordenados são muito baixos (em Portugal) e passei seis anos sem receber um
aumento, a trabalhar para o Estado português", declarou Crespo, natural do
Cartaxo e que trabalha em Inglaterra como administrador de sistemas
informáticos. "O nível de vida é definitivamente diferente, muito melhor, mas
custa-nos estar longe do nosso país", referiu ainda Crespo, que está em
permanente contacto com as notícias de Portugal através da internet.
Para a sua mulher, Paula Vaz, 27 anos, também natural do Cartaxo, existem
muitas facilidades para as pessoas em Inglaterra, "além do serviço de saúde e
do sistema de serviços do Estado em geral serem muito melhores" do que em
Portugal. "Em Portugal, as coisas demoram muito tempo a acontecer. Em
Inglaterra, tudo é resolvido rapidamente, disse Paula Vaz, que trabalha como
recepcionista num ginásio. O casal não pretende retornar a Portugal tão cedo e
vem ao país "apenas para passar férias".
Maria Gouveia, residente há mais de 30 anos na Alemanha, também acreditam que a
situação económica de Portugal continua a não ser das melhores. "Pelo que nós
vemos nos noticiários portugueses da televisão, está tudo muito difícil, tudo
está mais caro. A situação económica do país está pior", indicou Ana Maria
Gouveia, natural de Seia e que mora há 35 anos em Nuremberga. "A assistência
médica é muito melhor na Alemanha. O padrão de vida lá é muito melhor", referiu
Ana Maria Gouveia, 60 anos, que trabalha numa fábrica de munições e vem todos
os anos passar férias a Portugal. Mas ao contrário do casal de Inglaterra, Ana
Maria planeia voltar assim que se reformar.
"Vou reformar-me daqui há três anos e volto para Portugal, mas, se não tivesse
essa reforma garantida, ficava na Alemanha", finalizou Ana Maria Gouveia.
Mundo Português, aqui, acedido em 19 de Agosto de 2009.