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Faça com que a comunidade conte
2009-08-14
CAMBRIDGE - Os indivíduos de expressão portuguesa residentes em Massachusetts estão a ser exortados a afirmarem-se e serem contados. cabo-verdianos são contados apropriadamente.

Lurdes C. da Silva  

    A primeira reunião da comissão foi agendada para a próxima quinta-feira, 20 de Agosto, e decorrerá entre as 3 e as 5 p.m., no escritório da Massachusetts Alliance of Portuguese Speakers (MAPS), localizado em 1046 Cambridge St., em Cambridge.
      "Precisamos de organizar a nossa comunidade porque de acordo com os dados do Censo norte-americano, a comunidade de expressão portuguesa não existe - somos invisíveis porque estamos mal contados ou até nem somos contados," de acordo com Paulo Pinto, director executivo da MAPS.
      Os dados do Censo são frequentemente usados na atribuição de fundos federais a serviços vitais para todos os cidadãos e para determinar o número de assentos congressionais.
      "É importante dispormos de uma contagem exacta e completa porque afecta-nos a todos," adiantou Helena S. Marques, directora executiva do Centro de Assistência ao Imigrante de New Bedford, notando que a comunidade portuguesa é muito "maior" do que as actuais cifras do Censo levam a crer.
      Isto, adiantou, constitui um desafio para agências como a sua a solicitarem subsídios.
      "Torna-se difícil candidatarmo-nos a subsídios, porque se proporcionarmos números, mostramos a necessidade. As propostas assim não são tão convincentes, porque não dispõem de números para as sustentar," referiu Marques.
      Heloísa Galvão, presidente do Grupo de Mulheres Brasileiras e ávida defensora dos direitos dos imigrantes brasileiros, concorda, dizendo que as actuais estatísticas do Censo subestimam muito a presença brasileira nos E.U.A.
      De acordo com o último Censo norte-americano (2000), residem apenas 212.428 nos E.U.A. Todavia, um estudo efectuado recentemente pelo Economista Álvaro Lima, director de Pesquisa da Boston Redevelopment Authority, calcula que moram cerca de 1,4 milhões de brasileiros neste país, dos quais 336 mil (24 por cento) se radicaram em Massachusetts.
      "A comunidade não é pequena," sublinhou Galvão. "O problema é que não estamos a ser contados. Estamos a perder serviços muito depressa e estou assustada."
      Ela admite, contudo, que os brasileiros sentem-se relutantes a responder ao Censo norte-americano, apesar do U.S. Census Bureau assegurar que todas as informações recolhidas são confidenciais e não são compartilhadas com outras agências governamentais.
      "As pessoas estão desconfiadas. Têm havido repercussões negativas por parte da Imigração. Agentes da imigração chegam a sua casa às 2 a.m. para o levar," referiu Galvão. "É importante que os líderes comunitários expliquem à comunidade porque é que nos devemos identificar. Precisamos de responder ao Censo e precisamos de dizer que somos brasileiros."
      Contrariamente às co-munidades hispânicas, a população de expressão portuguesa não possui uma categoria própria no formulário do Censo e os questionários do Censo não são imprimidos na sua língua mãe.
      "Não temos a mesma sorte que a comunidade hispânica, por isso é responsabilidade de todos nós assegurar que educamos todas as pessoas na nossa comunidade sobre a importância de sermos contados e sobre como podemos ser contados apropriadamente," sublinhou Pinto. "Não podemos permitir que continuemos a ser inseridos em categorias que nos tornem invisíveis."
      Consequentemente, uma das prioridades da nova comissão será educar os falantes de português a preencherem apropriadamente o questionário do Censo. Serão feitas diligências para ensinar este extracto populacional a marcar a caixa "Other Race" (Outra Raça) e a escrever a sua etnia - portuguesa, brasileira, cabo-verdiana, etc.
      Edward Figueiredo, director da Luso American Life Insurance Society (LALIS) de Lexington, adiantou que "já faz isto há muito," mas admite que existem muitas pessoas que ainda não sabem preencher apropriadamente o questionário do Censo.
      "É importante sabermos quantos luso-americanos há e quantas pessoas estão ligadas à sua cultura e língua, quer seja por motivos de pesquisa, de serviços ou académicos," salientou.
      Alexandra S. Barker e Miryam Wiley, do U.S. Census Bureau, planeiam assistir à reunião, para falar sobre a importância de se obter uma contagem exacta dos membros das comunidades e, mais importantemente, esclarecer quaisquer dúvidas que os presentes possam ter.
      Barker adiantou a O Jornal que esforços como os que estão a ser desencadeados por esta nova comissão fazem com o U.S. Census Bureau esteja a viver um "momento importante."
      "Orgulhamo-nos das nossas parcerias, como esta com a MAPS," salientou. "Dão muito apoio e compreendem realmente como os números podem afectar as suas comunidades e organizações. As pessoas destas comunidades podem educar-se melhor sobre os seus próprios desafios."
      Contudo, notou que os desafios enfrentados pelas comunidades de expressão portuguesas são comuns aos das outras comunidades estrangeiras, nomeadamente, isolamento cultural e linguístico, receio do governo, falta de integração social e política, estatuto de residente indocumentado, desligação a serviços tradicionais e questões sobre raça versus etnia.
      "Desafios como estes são geralmente abordados me-lhor através das nossas parcerias," revelou.
      Entretanto, o director executivo da MAPS espera que as diligências da nova comissão possam provar a dimensão e importância da comunidade de expressão portuguesa.
      "Se tivermos êxito, a nossa comunidade conseguirá finalmente o respeito que merece e os serviços de que necessita," frisou Pinto.

O Jornal, aqui.

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