Lurdes C. da Silva
A primeira reunião da comissão foi
agendada para a próxima quinta-feira, 20 de Agosto, e decorrerá entre as 3 e as
5 p.m., no escritório da Massachusetts Alliance of Portuguese Speakers (MAPS),
localizado em 1046 Cambridge St., em Cambridge.
"Precisamos de organizar a nossa
comunidade porque de acordo com os dados do Censo norte-americano, a comunidade
de expressão portuguesa não existe - somos invisíveis porque estamos mal
contados ou até nem somos contados," de acordo com Paulo Pinto, director
executivo da MAPS.
Os dados do Censo são frequentemente usados
na atribuição de fundos federais a serviços vitais para todos os cidadãos e
para determinar o número de assentos congressionais.
"É importante dispormos de uma
contagem exacta e completa porque afecta-nos a todos," adiantou Helena S.
Marques, directora executiva do Centro de Assistência ao Imigrante de New
Bedford, notando que a comunidade portuguesa é muito "maior" do que
as actuais cifras do Censo levam a crer.
Isto, adiantou, constitui um desafio para
agências como a sua a solicitarem subsídios.
"Torna-se difícil candidatarmo-nos a
subsídios, porque se proporcionarmos números, mostramos a necessidade. As
propostas assim não são tão convincentes, porque não dispõem de números para as
sustentar," referiu Marques.
Heloísa Galvão, presidente do Grupo de
Mulheres Brasileiras e ávida defensora dos direitos dos imigrantes brasileiros,
concorda, dizendo que as actuais estatísticas do Censo subestimam muito a
presença brasileira nos E.U.A.
De acordo com o último Censo
norte-americano (2000), residem apenas 212.428 nos E.U.A. Todavia, um estudo
efectuado recentemente pelo Economista Álvaro Lima, director de Pesquisa da
Boston Redevelopment Authority, calcula que moram cerca de 1,4 milhões de
brasileiros neste país, dos quais 336 mil (24 por cento) se radicaram em
Massachusetts.
"A comunidade não é pequena,"
sublinhou Galvão. "O problema é que não estamos a ser contados. Estamos a
perder serviços muito depressa e estou assustada."
Ela admite, contudo, que os brasileiros
sentem-se relutantes a responder ao Censo norte-americano, apesar do U.S.
Census Bureau assegurar que todas as informações recolhidas são confidenciais e
não são compartilhadas com outras agências governamentais.
"As pessoas estão desconfiadas. Têm
havido repercussões negativas por parte da Imigração. Agentes da imigração
chegam a sua casa às 2 a.m.
para o levar," referiu Galvão. "É importante que os líderes
comunitários expliquem à comunidade porque é que nos devemos identificar.
Precisamos de responder ao Censo e precisamos de dizer que somos
brasileiros."
Contrariamente às co-munidades hispânicas,
a população de expressão portuguesa não possui uma categoria própria no
formulário do Censo e os questionários do Censo não são imprimidos na sua
língua mãe.
"Não temos a mesma sorte que a
comunidade hispânica, por isso é responsabilidade de todos nós assegurar que
educamos todas as pessoas na nossa comunidade sobre a importância de sermos
contados e sobre como podemos ser contados apropriadamente," sublinhou
Pinto. "Não podemos permitir que continuemos a ser inseridos em categorias
que nos tornem invisíveis."
Consequentemente, uma das prioridades da
nova comissão será educar os falantes de português a preencherem
apropriadamente o questionário do Censo. Serão feitas diligências para ensinar
este extracto populacional a marcar a caixa "Other Race" (Outra Raça)
e a escrever a sua etnia - portuguesa, brasileira, cabo-verdiana, etc.
Edward Figueiredo, director da Luso
American Life Insurance Society (LALIS) de Lexington, adiantou que "já faz
isto há muito," mas admite que existem muitas pessoas que ainda não sabem
preencher apropriadamente o questionário do Censo.
"É importante sabermos quantos
luso-americanos há e quantas pessoas estão ligadas à sua cultura e língua, quer
seja por motivos de pesquisa, de serviços ou académicos," salientou.
Alexandra S. Barker e Miryam Wiley, do U.S.
Census Bureau, planeiam assistir à reunião, para falar sobre a importância de
se obter uma contagem exacta dos membros das comunidades e, mais
importantemente, esclarecer quaisquer dúvidas que os presentes possam ter.
Barker adiantou a O Jornal que esforços
como os que estão a ser desencadeados por esta nova comissão fazem com o U.S.
Census Bureau esteja a viver um "momento importante."
"Orgulhamo-nos das nossas parcerias,
como esta com a MAPS," salientou. "Dão muito apoio e compreendem
realmente como os números podem afectar as suas comunidades e organizações. As
pessoas destas comunidades podem educar-se melhor sobre os seus próprios
desafios."
Contudo, notou que os desafios enfrentados
pelas comunidades de expressão portuguesas são comuns aos das outras
comunidades estrangeiras, nomeadamente, isolamento cultural e linguístico,
receio do governo, falta de integração social e política, estatuto de residente
indocumentado, desligação a serviços tradicionais e questões sobre raça versus
etnia.
"Desafios como estes são geralmente
abordados me-lhor através das nossas parcerias," revelou.
Entretanto, o director executivo da MAPS
espera que as diligências da nova comissão possam provar a dimensão e
importância da comunidade de expressão portuguesa.
"Se tivermos êxito, a nossa comunidade
conseguirá finalmente o respeito que merece e os serviços de que
necessita," frisou Pinto.
O Jornal, aqui.