Durante anos, milhares de portugueses chegaram à região inglesa de East Anglia e começaram imediatamente a trabalhar, mas agora muitos não conseguem encontrar emprego e já começam a pensar em regressar a Portugal, constatou a Lusa entre a comunidade.
É o caso de José Luís, carpinteiro de 52 anos natural de Vila de Rei, que chegou a Thetford, no este de Inglaterra, a 12 de Dezembro de 2002, para fugir aos problemas no sector da construção em Portugal.
"No dia seguinte comecei logo a trabalhar", contou à agência Lusa.
Começou por uma fábrica de processamento de frangos e mais tarde trabalhou numa base militar norte-americana, a qual abandonou em 2007 por problemas de saúde.
Desde então não voltou a trabalhar e só se mantém graças às poupanças e ao dinheiro que ganhou numa casa de apostas.
"Estou com a ideia de ir embora, aqui não consigo fazer vida e em Portugal consigo desenrascar-me", resigna-se.
A recessão no Reino Unido resultou no encerramento de matadouros e fábricas de processamento de alimentos na região leste de Inglaterra, onde muitos portugueses encontraram emprego nos últimos anos.
As autoridades locais estimam que residam em East Anglia cerca de 200 mil portugueses, mas não existem números sobre quantos foram despedidos ou deixaram entretanto o país.
Laurinda, de 29 anos, deixou Santarém há nove anos e durante sete anos conseguiu "sempre emprego", mas há vários meses que não consegue nenhum.
A amiga Sheila, de 27 anos, deixou o Barreiro no ano passado "porque não tinha emprego em Portugal e pensava que ficava melhor aqui".
Familiares e amigos diziam que era fácil encontrar emprego, mas a realidade actual é diferente e agora encontra-se desempregada e obrigada a sustentar dois filhos com o subsídio de família.
"Antes saia-se de uma fábrica e no dia seguinte já se estava noutra", recordou José Santos, camionista de 43 anos.
Em Thetford há sete anos, este lisboeta também está sem emprego, mas porque lhe foi retirada a carta de condução de pesados.
Desde Dezembro que já enviou "mais de 20 candidaturas", sem sucesso.
"Isto está bastante difícil, muitas pessoas voltaram para Portugal, mas outras regressaram [a Inglaterra] porque lá está pior", disse à Lusa.
Mas a situação não é completamente negativa, frisa Joe Barreto, que fundou a SIMPLE, uma organização não-lucrativa para ajudar a comunidade emigrante local.
Muitos portugueses continuam a trabalhar e o reflexo do poder de compra é a existência e abertura de vários negócios.
Pelo menos dois cafés abriram no último ano, criando postos de trabalho, como foi o caso do Chocolate Mirror.
Apesar de ter arrancado no clímax da recessão, em Maio, o proprietário, Guilherme, está satisfeito.
"O negócio está bom. É mais fácil começar de baixo e subir do que ao contrário", afirmou.
"Em termos de vendas, constatou também Ana Perdiz, da mercearia Cabaz, "não fomos afectados", que reconhece que os clientes queixam-se de problemas.
Nas últimas semanas, a imprensa britânica começou a falar de sinais que indicam uma melhoria da situação económica.
Segundo João Noronha, director do jornal para a comunidade portuguesa 'As Notícias', o mercado de trabalho para os portugueses também "está a arrebitar".
"Estão é a instalar-se em novas localidades mais perto das fábricas que estão a abrir", notou.
Lusa
DNOTICIAS.PT, aqui, acedido em 27 de Julho de 2009.