A crise económica mundial está a afectar a comunidade portuguesa em
algumas regiões nos Estados Unidos, principalmente ao nível do
comércio, da restauração e da construção civil com o aumento do número
de desempregados.
Vânia Pereira, uma jovem portuguesa que
trabalha numa loja de um centro comercial em White Plains, Nova Iorque,
disse à Lusa que o patrão lhe reduziu o horário de trabalho em dois
dias e a obrigou a pagar parte do seu seguro de saúde, até aí coberto
integralmente pela empresa.
O mesmo acontece na meia dúzia de
fábricas que ainda existem nesta zona e dão emprego a mulheres
portuguesas: todas as horas extraordinárias foram cortadas, o trabalho
ao sábado foi suprimido e em alguns casos os salários foram também
reduzidos.
Humberto Lopes, proprietário de uma ourivesaria em
Mount Vernon, cidade a norte de Manhattan, à saída do Bronx, habituado
a vender ouro português em grandes quantidades para a comunidade, disse
à Lusa que desde final do ano passado o negócio "praticamente parou".
"Em
época de crise, as pessoas compram menos ouro, ou não compram nenhum, e
neste momento o que faz o negócio sobreviver é a compra e penhora de
peças usadas", referiu.
Do outro lado do rio Hudson, em Newark,
Nova Jérsia, onde vivem mais de 100 mil portugueses, a crise verificada
no sector da compra e venda de casas tem afectado duramente a
comunidade portuguesa, quer nas vendas, quer na construção de casas
novas.
Fernando Santos, o chefe de redacção do jornal português
Luso-Americano, disse à Lusa que há um ano o jornal tinha em cada
edição cerca de 16 páginas de anúncios de compra e venda de casas,
enquanto hoje tem apenas oito.
Por outro lado, as páginas de
classificados com apartamentos para alugar subiram de uma página para
três, o que afecta particularmente a comunidade portuguesa, em que há
muitos proprietários destas casas, sobretudo no bairro do Ironbound, em
Newark.
Também muitos proprietários de restaurantes portugueses
desta cidade se queixaram à Lusa, embora pedindo anonimato, de uma
diminuição de clientes.
Segundo vários responsáveis de agências
de viagens ouvidos pela Lusa, também as vendas de passagens para férias
em Portugal está este ano um pouco abaixo de anos anteriores.
No
sector da construção civil pesada, a falta de trabalho tem também
afectado a comunidade do estado de Nova Jérsia, pois o sindicato Local
472 tinha ainda há uma semana cerca de 300 trabalhadores em casa sem
trabalho, a grande maioria de origem portuguesa.
A norte, no
Estado de Connecticut, onde a comunidade se concentra sobretudo em
quatro grandes cidades, é ainda a construção civil a grande
responsável, directa ou indirectamente, pela elevada taxa de
desemprego, nove por cento em Maio.
Manuel Carrelo, Conselheiro
das Comunidades Portuguesas eleito por esta área, disse à Lusa ter
conhecimento de muitas dezenas de portugueses que não conseguem
arranjar trabalho há muitos meses.
"Há algumas pequenas
companhias de construção civil de portugueses que ou estão reduzidas a
dois ou três trabalhadores ou estão paradas por falta de trabalho",
disse.
Apesar de tudo, este Conselheiro diz que a comunidade
portuguesa parece resistir melhor à crise, seja porque amealhou na
época das 'vacas gordas', ou pela habilidade natural de se adaptar às
circunstâncias adversas.
Lusa
DNOTICIAS.pt, aqui, acedido em 10 de Julho de 2009.