Foi um êxito de bilheteira em Portugal e um dos filmes mais vistos em 2013 em França com direito a estreia, em pleno Campos Elíseos, no cinema de infância de Ruben Alves, o realizador, também ele luso-descendente e que só falava português em pequeno nas férias de verão. Falamos do filme de comédia "A Gaiola Dourada" que retrata a vida dos portugueses emigrados em França e todas as dificuldades por que passaram e continuam a passar.
Quem segue a seleção a sul de Paris, em Marcoussis, de há 25 dias a esta parte é inevitável que não tenha já presenciado coisas que se imaginam mas que vistas ao vivo tomam outras proporções. Ainda ontem um dos portugueses que fazia "sentinela" junto ao portão do Centro de Estágio, onde a comitiva portuguesa está concentrada, dizia algo de improvável: "Isto é como uma criança, esperámos bem mais do que nove meses por este momento." O momento que falam é estarem perto da seleção nacional.
"Esse é o momento deles, de voltar a sentir as coisas. Porque esperam horas para verem um autocarro passar? Porque é que estão horas em frente a um portão quando sabem que nada vai acontecer? Porque ao lado deles está um português e porque lá dentro eles sabem que estão portugueses que os ligam ao seu país. É aquela coisa do convívio, das sardinhadas e matar saudades. É uma maneira de conviver com os portugueses, de serem portugueses e sentirem as coisas", diz Ruben Alves sobre os emigrantes, ele que é luso-descendente.
Brilho e impulso
O realizador nascido em Paris, mas que está a torcer "por Portugal", destaca o "power" do futebol e, aliado a isso, refere como seria a vida depois de 10 de julho na eventualidade de Portugal vencer o torneio.
"Os portugueses que estão em França, e não só, estão sedentos de reconhecimento, precisam de agarrar-se a alguma coisa, porque durante muito tempo foram esquecidos. A vitória no Euro surgiria no tempo certo porque hoje Portugal está a viver um momento sexy. Uma vitória faria todo o sentido para dar o último brilho e uma auto-confiança de que Portugal necessita", considera Ruben, que hesita quando lhe perguntamos se o seu filme fica desatualizado em caso de êxito português: "Não sei, é possível, mas já fiz a minha parte.
O cineasta fala com orgulho de um país cada vez mais apetecível e acredita que Ronaldo e companheiros podem dar uma grande ajuda.
"Se me perguntar se Portugal for campeão muda alguma coisa para os emigrantes? Não sei, penso que sim, pode dar uma confiança ao português que ele precisa. Porque já acabaram os tempos do Portugal pequenino e coitadinho. Com o que está a acontecer, com um interesse cada vez maior do mundo por Portugal, vejo que é este o momento. Há cinco ou dez anos a conquista de um Europeu ou Mundial não teria o mesmo sabor. Este Euro faz todo o sentido para dar o último impulso e brilho à auto-confiança que os portugueses necessitam. É uma geração inteira que precisa de deixar de dizer que o que está lá fora é que é bom. E o futebol tem esse poder e seria um enorme reconhecimento. Mas para nós portugueses também tem de ser bom; para nos sentirmos melhor e dizermos que "Juntos conseguimos". Aos portugueses de França isto faz ainda mais sentido, mas não se pode resumir aos portugueses de França. Estes querem acreditar porque estão perto."
O fado francês
Portugal tem ainda antes da final de ultrapassar o País de Gales. Contudo, há uma final possível e que oporá a França, equipa anfitriã, a Portugal. E este era o jogo que os emigrantes mais temiam, opinião partilhada a custo por Ruben Alves: "Queremos acabar com esta coisa de nunca vencermos a França nos grandes jogos, acabar com este fado. Acredito que haja muitos emigrantes que prefiram não ver Portugal na final do que perder com a França. Se Portugal realizasse uma exibição inacreditável, a dar tudo, um 4-4 e perdêssemos só nos penáltis, pronto, chegamos ao fim e percebemos que é quase impossível combater este mau olhado. Mas se a França vence a dominar e a controlar prefiro que Portugal perca já com o País de Gales."
O título de um filme
O DN desafiou Ruben Alves a dar um título a um filme sobre a vitória de Portugal no Europeu: ""À grande e à portuguesa" dava um bom título mas não o vou realizar." E antes de colocar um ponto final na conversa deixou uma crítica ao discurso de Fernando Santos e de alguns jogadores. "Eu tenho ouvido o selecionador e mais um outro futeboista dizerem que preferem que Portugal jogue feio desde que isso signifique continuar em prova. Eu prefiro que Portugal seja eliminado se não mostrar brilho. Portugal ainda está a tempo de ter brilho nas suas vitórias, basta por os olhos na Islândia, é impossível não gostarmos da Islândia. Eles caminham juntos, Portugal às vezes parece que vive um bocadinho das individualidades."
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