“Ninguém vê a miséria. Há trabalho, mas ninguém vê a miséria que há em França”. É o testemunho de quem já leva décadas de distância, de quem trocou francos e faz contas aos euros. De quem aprendeu a viver “à pequena e à francesa”.
Só um controlo já intrincado de uma vida contida e caseira permite a muitos emigrantes aguentar a pressão de um mercado de trabalho cada vez mais espremido.
As reclamações encontram par nas que ouvimos diariamente em Portugal. “Quem recebe cinco mil deixa ficar dois mil e quinhentos”. E depois há o resto. Um nível de vida que remete para uma hibernação social.
Falta escape. É um beco a que a esmagadora maioria se resigna. Uma maioria que não tem tempo para saudade, para projectar o regresso. Uma maioria instalada, silenciosa, que concorda mas não manifesta. Uma maioria que sobrevive.
É essa maioria que desperta a cada sinal de portugalidade. É como uma reacção pavloviana. Uma matrícula, uma bandeira, um emblema, o hino, um rancho folclórico, a selecção portuguesa. Estímulos que, no entanto, não funcionam como recompensa.
O investimento emocional, apesar de simbiótico, porque há prazer na oferta, no apoio, na disponibilidade, não é sufiente.
A vitória no Campeonato da Europa, em França, é a contrapartida. Aí, nem que por um efémero momento, daria para viver “à grande e à portuguesa”.
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