A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) vai deixar de financiar o projecto para aumentar a participação política e cívica da comunidade portuguesa nos Estados Unidos por falta de verbas, disse à Lusa o presidente da instituição.
Em declarações à Agência Lusa, Rui Machete referiu que a Fundação tem neste momento "uma dificuldade real devido à crise" e que, "até por uma questão de princípio", o projecto não pode continuar a ser pago em 99 por cento pela FLAD.
"Dramatizar um bocadinho as coisas ajuda porque senão as pessoas não ligam grande importância, é bom explicar que isto não se pode manter assim", disse o presidente da FLAD, considerando que deve ser a própria comunidade a assumir os custos do "Portuguese American Citizenship Project", que existe há dez anos.
"Se derem 10 ou 15 dólares é perfeitamente possível que o projecto tenha os meios suficientes para se auto-sustentar", disse.
Segundo Rui Machete, os dez anos de projecto custaram à fundação "entre 7,5 e oito milhões de euros", uma "quantia já importante".
Para o presidente da FLAD, o êxito do projecto, que sensibiliza os emigrantes para as vantagens de se naturalizarem norte-americanos e votarem, traduziu-se numa maior participação política e em vantagens, principalmente nas zonas de concentração da comunidade portuguesa - Califórnia, Newark, Massachusetts e Rhode Island.
"Se tiverem meios de a sua voz ser ouvida na política desses estados, podem ser agentes importantes nas relações internacionais entre a sociedade civil portuguesa e a sociedade civil americana, ajudando em aspectos culturais, económicos e a maneira como os Estados Unidos vêem Portugal", considerou.
O coordenador do projecto, James McGlinchey, filho de pai irlandês e mãe açoriana, disse ter planos de mudar de vida e abandonar as suas funções.
"Mesmo que não houvesse a questão do dinheiro, era preciso mudar porque não se pode fazer estas coisas para sempre", disse.
McGlinchey considerou porém que, "mesmo que não se consiga angariar o dinheiro necessário, há partes deste projecto que vão sobreviver e os coordenadores locais continuarão a fazer o trabalho que têm feito".
Da análise de dez anos de projecto, reconhece que falhou no aspecto agora em causa: "Nunca fui um bom angariador de fundos." Segundo McGlinchey, o projecto permitiu aumentar a percentagem de votantes entre a comunidade portuguesa na ordem dos 10 a 15 por cento.
Por seu lado, o presidente da comissão que gere o projecto, Elmano Costa, açoriano da Ilha Terceira que foi para os Estados Unidos com dez anos, manifestou a convicção de que "o projecto não vai morrer".
"Já mudámos a ideia em muitas comunidades de que os portugueses não votam, mas que participam em igual percentagem ao americanos nos actos eleitorais", disse.
O também conselheiro das Comunidades na Califórnia manifestou, no entanto, dúvidas sobre as perspectivas de contribuições dos luso-americanos para financiar o projecto.
"Por exemplo, angariar fundos na Califórnia dizendo que esse dinheiro também servirá para New Jersey, Massachussets, Rhode Island, (as pessoas) vão dizer: 'o que me interessa o que se passa em Massachussets? Eu sou californiano e quero o benefício para a Califórnia'", referiu.
O principal entrave, adiantou, é o espírito de "bairrismo" que existe nas comunidades em geral. "Quando estamos isolados não aprendemos uns com os outros e é este contacto que implica custos", disse.
Segundo as estimativas, residem nos Estados Unidos cerca de um milhão de portugueses, a maioria oriunda dos Açores.
VM.
Jornal Expresso, aqui, acedido em 21 de Maio de 2009