"Só em Ontário temos à volta de meio milhão de portugueses, 70 a 75 por cento deles açorianos ou descendentes. Na brincadeira, já disse ao presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, que sou mais presidente do que ele, porque ele tem 240 mil açorianos e eu tenho mais de 300 mil", afirma o presidente da Casa dos Açores de Ontário, no Canadá, província cuja capital é Toronto.
Carlos Botelho, de 55 anos é por muitos conhecido como Carlos "Capelas", nome da sua terra natal, em São Miguel e da empresa de construção civil que tem no Canadá, terra para onde emigrou aos 20 anos. É na construção civil que trabalha a maior parte da comunidade portuguesa no Canadá. Um sector que é logo dos primeiros a ser afectado nas crises económicas.
Crise que, para já, ainda não está em força no Canadá. "Estamos a sentir a crise, mas nada que se compare com os nossos vizinhos Estados Unidos, porque aqui os bancos sempre foram mais conservadores do que lá e nunca deram empréstimos de mão aberta", garante o presidente da Casa dos Açores de Ontário.
No entanto, a comunidade açoriana já sofre com o desemprego, cuja taxa no Canadá passou recentemente dos 6 para os 8 por cento. Um exemplo disso é o próprio Carlos Botelho, que já teve de repercutir na sua força de trabalho os efeitos da recessão na construção civil.
"Temos a quase totalidade dos nossos empregados em subempreitadas e costumamos trabalhar com entre 50 até 70 equipas ao mesmo tempo, mas ultimamente estamos nas 35 a 40 equipas", revela o empresário e presidente da Casa dos Açores de Ontário.
Sinais negativos que mesmo assim não chegam na forma de pedidos de ajuda à Casa dos Açores, porque a maioria dos trabalhadores são sindicalizados e podem recorrer ao fundo de desemprego quando estão sem trabalho. A esperança está, no Canadá como em Portugal, no programa de obras públicas que o Governo está a desenvolver com a intenção de reanimar a economia.
Outra questão de que já não se fala muito actualmente, mas que continua a preocupar a comunidade açoriana no Canadá é a dos repatriamentos de imigrantes ilegais, incluindo de muitos açorianos.
Para travar isso, a Casa dos Açores tem promovido campanhas de naturalização, que só no ano passado tiveram a procura de cerca de 700 pessoas, portuguesas mas não só. "Na Casa dos Açores preocupamo-nos com esta questão, mas o máximo que podemos fazer é incentivar as pessoas a naturalizarem-se", afirma Carlos Botelho.
Mesmo assim o presidente da Casa dos Açores de Ontário não duvida em afirmar que os canadianos acolhem bem os portugueses, um país onde "já temos grandes empresários, um ministro e um líder de um grande sindicato.
E não é só para os portugueses... Para as restantes comunidades, o Canadá é um país que acolhe muito bem", afirma Carlos Botelho, que não se arrepende de ter emigrado, apesar de reconhecer que os Açores de hoje estão muito diferentes dos Açores de 1974, ano em que emigrou. Por fim, quanto a outra preocupação mundial recente, a da Gripe A, esta parece ainda não atingir muito a comunidade açoriana, com Carlos Botelho a lembrar que os casos conhecidos naquele país ocorreram no lado Oeste, uma zona com bastante menos açorianos.
Rui Jorge Cabral
Açoriano Oriental, aqui, acedido em 12 de Maio de 2009