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Portugal não ganhava tanto dinheiro com emigrantes desde o início do século
2015-06-11
Há mais dinheiro a vir de portugueses no estrangeiro, e as remessas dos imigrantes no país estão a descer. No ano passado, o saldo líquido foi de 2522 milhões de euros, o montante mais alto dos últimos 13 anos.

O saldo líquido entre o dinheiro enviado para o país por portugueses no estrangeiro e os valores que os imigrantes mandam de Portugal está em máximos dos últimos 13 anos, tendo atingido os 2522 milhões no ano passado. Em 2005, este indicador, tradicionalmente positivo, estava nos 1717 milhões.

A tendência de crescimento parece manter-se este ano, já que nos primeiros três meses (últimos dados disponíveis), o saldo era positivo para Portugal em 664 milhões de euros (mais 14% face a idêntico período do ano passado). Os números, disponíveis na base de dados do Banco de Portugal, mostram assim a tendência de emigração de muitos trabalhadores portugueses, que partiram para mercados como Angola, Espanha ou  Reino Unido, principalmente a partir de 2010.

Além disso, houve também uma descida dos valores enviados pelos cidadãos estrangeiros que vieram para Portugal, fenómeno a que a profunda crise que o país atravessou não é alheia. No ano passado, o dinheiro enviado para fora do país (que funciona como passivo) chegou aos 535 milhões de euros (-3,7% face a 2013), quando o valor que deu entrada na economia portuguesa (activo) foi de 3057 milhões (+1,4%).

Para o primeiro-ministro, que continua a defender que nunca convidou ninguém a emigrar, estas são boas notícias (pelo menos a curto prazo), já que os que partiram, com ou sem convite, ajudam agora a financiar a economia portuguesa e a equilibrar a balança de pagamentos.

A história da emigração continua a ter um forte peso na relação das remessas que são enviadas do exterior, já que é de França e da Suíça que chega a maior parte do dinheiro: no ano passado o valor foi de 882 e 813 milhões de euros, respectivamente (55% do total).

Ao mesmo tempo, verifica-se uma subida do dinheiro que chega  de Espanha, Reino Unido e Angola, mercados conhecidos da recente vaga de saída de trabalhadores de Portugal. De Angola chegaram 248 milhões no ano passado, mas este valor já reflecte a crise ditada pela baixa do preço do petróleo (em 2013 foram 304 milhões). Já do Reino Unido vieram 202 milhões no ano passado (+29,5%) e de Espanha outros 167 milhões (+6,4%).  

Quanto ao valor enviado pelos imigrantes em Portugal, este registou um pico em 2006, quando chegou aos 610 milhões de euros. Depois disso, foi tendo altos e baixos, com os 535 milhões do ano passado a representarem uma quebra de 9% face a 2011, ano em que a troika de credores chegou ao país. No caso dos ucranianos, a quebra é expressiva: se em 2011 o valor era de 49 milhões, em 2014 não passou dos 17,2 milhões de euros (-65%).

Há, no entanto, casos de recuperação e de crescimento. Após uma descida em 2012, as remessas enviadas para o Brasil voltaram a subir. No ano passado chegaram aos 255 milhões, com um ligeiro crescimento face a 2013.

Remessas para a China disparam
Depois, há o caso da China, que em dez anos disparou de apenas 1,1 milhões de euros para 73,2 milhões no ano passado. O maior salto em valor foi dado precisamente no ano da chegada da troika, altura em que subiu 42 milhões, para continuar a crescer nos anos seguintes. Em 2014, no entanto, verificou-se uma ligeira descida de 5%, após uma subida de 10% no ano anterior.

Um estudo do INE, feito com base no Censos de 2011, constatava que o número de chineses em Portugal tinha crescido cerca de cinco vezes entre 2001 e 2011, passando a ser a  nona comunidade estrangeira residente no país (com 75,7% das pessoas com 15 ou mais anos a ter o trabalho como principal fonte de rendimento). Ao todo, seriam 11.458 cidadãos de nacionalidade chinesa, o que equivalia a 2,9% do total de estrangeiros residentes. 

Já um estudo recente de Miguel Santos Neves e Annette Bongardt, intituladoThe chinese business community at a crossroads between crisis response and China's assertive global strategy - the case of Portugal, dava conta de que em 2012 o número de chineses residentes seria de 17.447, e que isso equivalia a 4,2% da população estrangeira, devido à saída de muitos outros imigrantes.

 

Luís Villalobos

Ver Público, aqui.

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