Ontem lançou o desafio e esta terça-feira de manhã, em Castelo Branco, reforçou-o. "Já conseguiram investigar uma frase minha em que eu tenha dito aos jovens portugueses que o que valia a pena era emigrar?", perguntou.
Os jornalistas aceitaram o repto - de resto, facilitado pela celeuma convertida em dezenas de reacções que o assunto provocou na altura - e recordaram-lhe a entrevista que deu ao Correio da Manhã, em Dezembro de 2011.
"Nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou querendo-se manter, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa", alertou o primeiro-ministro, depois de indicar como destino países como Angola ou o Brasil.
"Não só Angola, o Brasil também, tem uma grande necessidade ao nível do ensino básico e do ensino secundário de mão de obra qualificada e de professores.Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm nesta altura ocupação e o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos".
Se Passos Coelho tivesse esclarecido que não foi o primeiro a incentivar os portugueses à emigração, estaria a dizer a verdade. De facto, a primeira sugestão não veio do primeiro-ministro, mas do secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Dois meses antes, em outubro de 2011, com a taxa de desemprego imparável, Alexandre Mestre, defendeu, numa conferência, em São Paulo, no Brasil, que "se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras".
A partir daí, o PSD cavalgou a afirmação. Miguel Relvas, na altura ainda braço direito de Passos, reiterou que "só quem tem uma visão conservadora e desadequada da realidade, não consegue acompanhar aquilo que é o sinal dos tempos".
Hoje, o primeiro-ministro quis traduzir o que disse então. "Aqueles que têm a vocação de ensinar, das duas uma: ou encontram uma alternativa no espaço da língua portuguesa ou então reconvertem-se e experimentam outras alternativas e outras experiências para poderem viver com dignidade. Mas isso não é convidar ninguém para a emigração."
Foi a explicação possível. Mas logo surgiu outro "mito urbano": o da refundação do Estado.
"Podem procurar o mito de que eu tenha falado da refundação do Estado. Imensos jornais falaram da refundação do Estado, numa expressão que nunca utilizei. É outro dos mitos que se associa às minhas intervenções públicas, que eu defendi a refundação do Estado".
Desafio novamente aceite. Em Outubro de 2012, no encerramento das jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS-PP, na Assembleia da República, Pedro Passos Coelho afirmou que não é possível adiar uma "reforma mais profunda do Estado".
Essa reforma do Estado, esclareceu, constituirá "não uma renegociação", mas sim "uma refundação do memorando de entendimento" e "deve comprometer todos aqueles que assinaram ou negociaram o memorando de entendimento".
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