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Quando o Governo convidou os portugueses a emigrar
2015-06-08
As primeiras palavras de um governante sobre o tema a causar polémica foram proferidas nos primeiros meses de mandato. O então secretário de Estado da Juventude desafiou jovens portugueses desempregados a sair da “zona de conforto” e emigrar.

O primeiro-ministro fala num "mito urbano" e garante que nunca convidou os jovens portugueses a emigrar, mas ao longo dos quatro anos de Governo PSD/CDS a ideia tem pairado nas declarações de vários membros do executivo.

As primeiras palavras de um membro do Governo sobre emigração a causar polémica foram proferidas no Brasil, a 31 de Outubro de 2011.

Em São Paulo, perante representantes da comunidade portuguesa e jovens luso-brasileiros, o então secretário de Estado do Desporto e Juventude Alexandre Miguel Mestre disse que os jovens portugueses desempregados devem sair da "zona de conforto" e emigrar.

"Se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras", afirmou Alexandre Miguel Mestre, numa altura em que o Governo estava há poucos meses no poder e tinha que implementar as medidas de austeridade acordados com a "troika".

Duas semanas depois, a 16 de Novembro de 2011, o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares também defendeu a alternativa emigração. Miguel Relvas disse que emigração pode ser "extremamente positiva".

"Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspectiva de poder voltar, mas que pode fortalecer a sua formação, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo. Também nesta matéria é importante que se tenha uma visão cosmopolita do mundo", defendeu Miguel Relvas, que se demitiu do Governo em Abril de 2013, na sequência do caso Lusófona.

Numa entrevista ao jornal "Correio da Manhã", em Dezembro de 2011, foi a vez do primeiro-ministro sugerir a emigração aos professores sem colocação nas escolas portuguesas.

Questionado sobre se aconselharia os "professores excedentários que temos" a "abandonarem a sua zona de conforto e a "procurarem emprego noutro sítio", Passos Coelho respondeu: "Em Angola e não só. O Brasil tem também uma grande necessidade ao nível do ensino básico e secundário".

O chefe do Governo voltou ao tema dois anos depois, em Dezembro de 2013, mas para dizer que a emigração de jovens qualificados "dói".

"Por isso nos dói tanto que entre aquilo que hoje são mais desenvolvidos e evoluídos do ponto de vista do conhecimento que adquiriram em termos académicos muitos deles tenham que escolher outras paragens para poderem aceder ou a estágios ou à sua realização profissional", disse Passos Coelho, numa cerimónia de entrega de prémios de associativismo juvenil, em Lisboa.

O tema voltou ao radar do Governo em Fevereiro deste ano, pela voz da ministra das Finanças. Maria Luís Albuquerque foi a Trás-os-Montes relativizar a questão da emigração jovem.

"Se queremos viver num mundo globalizado, sem fronteiras, em que queremos dar uma oportunidade aos nossos jovens, temos de encarar de uma forma mais relativizada aquilo que é o fenómeno da movimentação dos jovens à procura de oportunidades por esse mundo fundo", afirmou a sucessora de Vítor Gaspar.

Maria Luís Albuquerque defendeu que "hoje um jovem que acaba uma licenciatura tem um mundo à sua disposição".

Pelo menos 285 mil portugueses e portuguesas emigraram nos últimos quatro anos, de acordo com uma estimativa do Observatório da Emigração. Só em 2013, pelo menos 110 mil portugueses deixaram o país.

 

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