A insegurança pessoal, associada à permanente tensão política e à
incerteza quanto ao futuro da Venezuela, fazem com que um significativo número
de emigrantes portugueses encarem o regresso definitivo ou temporário como
"uma válvula de escape".
"Regressar ainda não está nos planos, mas
o futuro da Venezuela está muito incerto, temos isso como uma válvula de
escape", explica Agostinho David Mendes à Agência Lusa.
Apesar da insegurança, diz: "Enquanto
pudermos, temos que lutar por este país que nos deu muito".
Natural de São Vicente, Madeira, radicado na
Venezuela há 24 anos onde é um dos proprietários de um restaurante em Caracas,
Agostinho Mendes explica que as razões para um regresso são "a questão
política, a insegurança pessoal e económica, mas também o projecto que encabeça
o Presidente (Hugo Chávez)" que está a levar o país para "um
comunismo".
"Ele (Hugo Chávez) nunca mentiu, sempre
falou do mar da felicidade, e sabemos que o mar da felicidade é Cuba, e Cuba
sabemos o que é. A única esperança que temos é que haja uma interrupção do
projecto dele. Nós, que já lutámos contra uma ditadura, não podemos apoiar que
na Venezuela se instale uma", diz.
Entre as suas preocupações está a nova
"propriedade social" que, acredita, no futuro afectará os seus bens.
Também o "sair de casa sem saber se vai regressar", se vai ser
sequestrado e ter de "dispensar" o resultado do suor de longos anos
de trabalho para ter a vida de volta.
Mas se alguns portugueses falam abertamente
contra o regime, outros há que consideram a política um tabu e aceitam
conversar apenas com a expressa condição de anonimato.
Nas conversas, vincam que partiram com o sonho
de um dia regressar.
O "calor humano" dos venezuelanos e
as potencialidades fizeram com que o tempo dissipasse esse "sonho",
que, no entanto, tem reaparecido nos últimos anos.
No entanto, muitos portugueses, quando
ponderam o regresso, pensam imediatamente na crise financeira mundial, no
desemprego em Portugal e encaram o território português apenas um sítio para
"fazer uma pausa temporária antes de optar por outros destinos".
A Agência Lusa falou com duas famílias de
emigrantes que venderam quase todas as suas propriedades e regressaram a
Portugal, mas que acabaram por voltar a Caracas.
"Durante oito meses estivemos em Portugal
mas o ritmo de vida era diferente e não se via os resultados nos negócios, por
isso tivemos de regressar", diz Manuel Freitas, um emigrante que voltou há
três semanas.
Apenas um empresário português, António
Martins, disse à Agência Lusa que acredita no futuro.
"Afastando o discurso e o jogo político,
a vida continua. É preciso saber discernir entre a realidade e a política. Há
10 anos que Hugo Chávez está no poder e continuamos a ganhar dinheiro. Nem tudo
pode ver-se negativamente, ele tem ajudado muito os pobres", diz.
No entanto, também tem uma preocupação: a
"insegurança".
DNOTICIAS.pt, aqui, acedido em 15 de Junho de 2009.