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Emigração: Brasil pode não ser um «el dorado»
2015-03-12
Estudo revela que muitos portugueses têm dificuldades em gerir a realidade que encontram no Brasil

Muitos portugueses que emigram para o Brasil têm dificuldades em gerir a idealização e o que realmente são as condições objetivas de vida naquele país, disse a coordenadora de um estudo, cujas conclusões foram esta quinta-feira apresentadas em Lisboa.

«Os portugueses têm uma representação altamente idealizada do Brasil como contexto imigratório. É uma questão que emerge com muita força», declarou à Lusa Marta Vilar Rosales, coordenadora da investigação.


Segundo a investigadora, «muitos deles têm dificuldades em gerir aquilo que é uma situação idealizada e aquilo que são as condições objetivas de vida» no Brasil. 

«O objetivo deste projeto foi perceber justamente como as migrações contemporâneas são pensadas pelos migrantes no Brasil e em Portugal», referiu a antropóloga. 

O projeto «Travessias do Atlântico: materialidade, movimentos contemporâneos e políticas de pertença» foi desenvolvido em três anos e envolveu seis investigadores e quatro bolsistas de investigação, nomeadamente do Instituto de Ciências Sociais (ICS/ISCTE) e do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA). 

O estudo prestou especial atenção ao Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) enquanto destino migratório de portugueses e Portugal (Porto e Lisboa) enquanto país recetor de imigrantes brasileiros. 

«Os portugueses consideram que a migração para o Brasil oferece muitas oportunidades a nível profissional, consideram que a economia brasileira lhes proporciona uma experiência em termos de trabalho e o desenvolvimento das suas capacidades técnicas e profissionais, que o mercado português não oferece no momento», sublinhou a antropóloga. 

Segundo a professora de Antropologia da FCSH-UNL, a integração dos portugueses é descrita como muito complexa, devido à burocracia e à dificuldade que é legalizar estes projetos migratórios. 

«Aquilo que nós sentimos é que os projetos migratórios não são consolidados, não são consistentes, ou seja, são pessoas que estão a ter uma experiência migratória mas não sabem dizer se daqui a dois anos estarão ainda no Brasil, excetuando aqueles trabalhadores que vão com projetos já bem programados pelas suas empresas», afirmou ainda. 

A investigadora referiu que não há uma relação entre estes jovens portugueses e as gerações mais antigas que emigraram para o Brasil. 

«Sabemos que neste período, as migrações brasileiras para Portugal diminuíram por causa da crise e as migrações portugueses aumentaram para o Brasil devido à crise também, apesar de o Brasil não ser o maior destino da emigração portuguesa no presente», indicou. 

Apesar de menor, a imigração brasileira recente para Portugal adquiriu outros contornos. 

«A questão da dificuldade dos brasileiros em encontrar emprego estável em Portugal foi relativizada por uma imigração muito intensa de estudantes que vêm com bolsas de estudo e não precisam trabalhar», afirmou. 

«Além disso, os imigrantes brasileiros que vêm para trabalhar encontram alguma estabilidade ao nível institucional que compensa a instabilidade no setor do emprego, além de ter uma maior qualidade de vida em Portugal em relação ao Brasil», acrescentou. 

Segundo a investigadora, o objetivo é perceber «como as pessoas se sentem, se integram, se adaptam e se relacionam, comparando os contextos estudados», cita a Lusa. 

A investigação acompanhou pessoas individualmente e famílias migrantes dos dois países, no terreno, durante sete meses. 

O estudo contou ainda com a colaboração da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), em São Paulo e Rio de Janeiro, respetivamente.    

 

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