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São talentosos, estão lá fora mas fazem aqui muita falta
2015-02-21
Portugal não está só a perder empresas, empregos e recursos financeiros para o exterior. O país está também a perder pessoas. Desde 2008 terão desistido cerca de 400 mil portugueses.

Em 2013 emigraram entre 110 e 128 mil portugueses, consoante a fonte que se consulta. O Instituto Nacional de Estatística (INE) admite que, entre emigrantes temporários e permanentes, 128 mil portugueses tenham saído do país em 2013. No ano anterior terão saído 121 mil, contra os 100 mil de 2011. Já o Observatório da Emigração estima em 110 mil os portugueses emigrados no ano passado, acima dos 95 mil de 2012 e dos 80 mil de 2011. Outro dado relevante é que Portugal continua a não ser um país de chegada, mas sim de partida. Entre 2008 e 2012, o fluxo de imigrantes a entrar em Portugal caiu 51% - passou de29 719 para 14 606, segundo um relatório da Comissão Europeia. Porém esta vaga é transversal aos países periféricos do Sul da Europa, onde a crise económica, a falta de oportunidades e a perspectiva de progressão profissional, as mudanças no mercado de trabalho e as elevadas taxas de desemprego têm aberto caminho para a saída de pessoas em idade activa. Também há que ter em conta que as novas tecnologias e os voos low-cost,  mudaram o fenómeno da emigração portuguesa, defende o Observatório da Emigração. Brasil e Angola têm sido países importantes, mas não deverão ser os mais significativos porque o principal destino em 2013 terá sido o Reino Unido, diz Cláudia Pereira, investigadora do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia. Independentemente das oscilações, é seguro afirmar-se que Portugal é hoje o segundo país da União Europeia com mais emigrantes em percentagem da população: 20,8%, contra uma percentagem de emigrantes na população residente abaixo da média dos países da UE (8,6%).  Apesar de nos últimos tempos se ter registado um aumento significativo do número de saídas de pessoas com qualificações académicas superiores (passaram de 6% para 10%), a maioria dos portugueses que deixam o país continua, no entanto, a ter apenas o ensino básico, revela a investigadora do ISCTE. Cláudia Pereira confirma a fuga de mais "cérebros", mas salienta que a população portuguesa em geral também aumentou o número de qualificados. Além disso, adverte que é necessário ter em conta o local de destino e o tipo de trabalho. As profissões predominantes entre os portugueses emigrados são as profissões operárias, que ocupavam quase um terço (31%) do total. Outro terço era composto por trabalhadores não qualificados e trabalhadores de montagem e 10% eram quadros superiores ou dirigentes, a mesma taxa entre o pessoal nos serviços e vendedores. Uma outra ideia errada, segundo a investigadora, é o facilitismo sobre a decisão de partir para outro país. "Pensa-se que toda a gente está a sair porque é uma opção fácil, mas não é. Quem emigra passa sempre por ter de encontrar casa, integrar-se num mercado de trabalho mais competitivo e aprender outra língua, mesmo quando vai para um trabalho qualificado", salienta. Há muitos portugueses que desejam regressar a Portugal mas a realidade acaba por ditar o contrário. Segundo a teoria das migrações, diz Cláudia Pereira, "nos primeiros anos existe a intenção de voltar mas com o tempo muitos acabam por não o fazer porque começam a progredir nas carreiras e a constituir família" nos países de acolhimento. No caso de investigadores e cientistas, a grande maioria até gostava de voltar mas o seu país de origem não lhes oferece as condições (salariais e não só) que têm nos países para onde foram trabalhar (ver página seguintes). E continuarão os portugueses a partir? E voltarão? "Dificilmente, pelo menos nos próximos anos, com a alta taxa de desemprego e a falta de apoio do governo", diz Cláudia Pereira.Por alguma razão, um estudo recente elaborado por uma consultora em parceria com a Universidade Católica revela que quase metade dos estudantes universitários (46%) acreditam que terão de emigrar.    

 

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