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O português que foi para a Grécia para fugir da crise
2015-01-22
Os nossos enviados à Grécia olham desta feita para a pequena comunidade nacional radicada no país, de cerca de 700 pessoas. E contam-lhe a história de um ator que em Portugal via o trabalho escassear mas na Grécia conseguiu encontrar oportunidades.

André Maia mudou-se para a Grécia no dia em que fez 45 anos. Foi em 2009, um ano antes de a troika chegar ao país. Com pouco trabalho em Portugal, o ator e cantor mudou-se para Atenas à procura de mais oportunidades. E, ao contrário da esmagadora maioria dos gregos, não se pode queixar.

Na capital da Grécia, onde apesar da crise subsiste uma intensa vida cultural, com cerca de 120 teatros a funcionar, não lhe faltam espetáculos. Canta fado com instrumentos tradicionais gregos como o kanonaki, em substituição da guitarra portuguesa, em várias salas da cidade. Numa altura em que milhares de gregos deixam o país para fugir à austeridade, na maior vaga de emigração das últimas décadas, ele está para ficar.

"Vim para fugir à falta de oportunidades em Portugal. Foi o passo mais acertado que dei", conta. Formado na Escola Superior de Teatro de Lisboa, André, de 51 anos, deu corpo ao "Rapaz de Papel", o protagonista do musical com o mesmo nome criado pelo grupo de teatro catalão Els Comediants para o Festival dos 100 dias da Expo98. Além do teatro e da televisão, trabalhou intensamente em dobragens, dando voz a personagens de filmes de animação como Rei Leão, Toy Story ou Mulan. Mas nos últimos anos o trabalho começava a rarear.

Foi então que aceitou o desafio de um grupo de amigos gregos, que conhecera vários anos antes numa viagem ao país, e mudou-se para Atenas há seis anos, no dia do seu aniversário. "Não sinto a crise aqui. Faço um trabalho muito específico de divulgação da cultura portuguesa e não me posso queixar", diz. Além dos espetáculos, tem um programa semanal na Rádio Internacional de Atenas destinado à comunidade lusófona residente na Grécia, sobretudo constituída por brasileiros.

Entre os portugueses, a história de André não é vulgar. A maioria dos cerca de 700 emigrantes lusos vive no país há mais de 15 anos e não veio para a Grécia à procura de trabalho. "Não é uma emigração recente. No geral, a comunidade portuguesa, que é pequena, chegou há bastante tempo e não se instalou por razões profissionais, mas familiares ou emocionais. Quase todos vieram porque se casaram com um grego ou uma grega", explica Miguel Grainha do Vale, cônsul e encarregado de negócios da Embaixada de Portugal em Atenas, atualmente sem embaixador.

No mundo do futebol, que motiva acesas paixões na Grécia, onde há quase uma dezena de jornais desportivos diários, os portugueses têm tido um papel de destaque. Fernando Santos, o atual selecionador de Portugal, continua a ser adorado no país. E não é de estranhar: além de ter treinado vários dos principais clubes, nomeadamente o PAOK de Salónica, o AEK de Atenas e o Panathinaikos, esteve à frente da seleção e levou a Grécia aos quartos-de-final do Euro2012 - onde ironicamente foi eliminada pela Alemanha - e aos oitavos-de-final do Mundial de 2014. Outro técnico português, Vítor Pereira, ex-treinador do Futebol Clube do Porto, chegou agora à Grécia para orientar o Olympiacos.

É na Grécia que André Maia se sente em casa. Nos últimos anos tem assistido ao agudizar da crise no país, "onde se está a dar cabo da Saúde e da Educação e a vender tudo ao desbarato, com privatizações feitas ao preço da chuva". "É igual ao que está a acontecer em Portugal", diz.

O ator desconta para os impostos e para a Segurança Social na Grécia e até já pode votar nas autárquicas. Só está impedido de o fazer nas legislativas. Tem pena de não poder participar nas eleições que vão realizar-se no próximo domingo, sob o olhar atento de toda a Europa.

Ao contrário de cerca de 10% dos gregos, que ainda se mantêm indecisos, André sabe exatamente em quem iria votar, se pudesse. "Sem dúvida alguma, Syriza. Entre dois infernos, escolho sempre o que não conheço. Pode correr mal, mas pelo menos arrisca-se um caminho diferente do que tem sido seguido até aqui. Tal como em Portugal, nos últimos 40 anos só governaram o PASOK, que é o PS de cá, e a Nova Democracia, que é como se fosse o PSD. Os resultados estão à vista. É altura de mudar". De acordo com as sondagens, os gregos também parecem achar que sim.

 

Ver Expresso, aqui.

 

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