Localizada junto à zona de Dundas, no centro de Toronto, a esquadra abrange uma zona onde residem 153 mil pessoas, muitos deles imigrantes portugueses, e conta com 15 lusodescendentes entre 293 agentes.
"As minhas funções estão relacionadas com a comunidade, habitualmente faço patrulhas em bicicleta, ministro alguns programas destinados às crianças", afirmou à agência Lusa o agente Márcio Silva, de 35 anos, natural de Lisboa.
Apesar de ter um trabalho de proximidade, nada o impede de "meter alguém na cadeia de vez em quando", diz, entre sorrisos.
No Canadá desde os seis anos, é polícia na 14.ª Divisão há dez anos e está destacado para o desenvolvimento de programas destinados a crianças com idades compreendidas dos seis aos 14 anos, tentando passar a mensagem aos mais novos "de que a polícia não é má, fazendo da sociedade um pouco melhor".
Segundo o comando, os principais problemas verificados na área, onde reside uma grande comunidade portuguesa, prendem-se com crimes relacionados com a posse e venda de droga, pequenos furtos, quer de objetos dentro dos automóveis, quer nos estabelecimentos comerciais durante a noite.
Márcio Silva também avisou os emigrantes ilegais, para que se tiveram algum problema "podem ir descansados à polícia".
"Se alguém estiver ilegal e se for vítima de um crime pode vir ter connosco, que não olhamos para o estatuto da pessoa. Isso não interessa, o que importa é o crime e ajudamos a pessoa. Não deixamos de ajudar alguém por estar ilegal, nem vamos notificar as autoridades de imigração", informou.
O seu irmão, Nuno Silva, de 31 anos, é detetive de investigação criminal na mesma divisão, há cinco anos, e justificou a satisfação em estar próximo da comunidade portuguesa:
"Cresci nesta zona, quando era mais novo andava sempre por aqui. Tenho aqui amigos, adoro esta área. É ideal comunicar com a minha comunidade", referiu.
Nuno Silva espera, talvez, daqui a dez anos "ser promovido a sargento", mas reconhece que "ainda tem muito tempo pela frente".
O luso-canadiano salienta ainda que ser português "não é negativo", até ajuda saber falar "outra língua", porque a comunidade é "muito respeitada e respeitadora" no Canadá.
A proximidade com a comunidade na área geográfica daquela divisão, tem outro aspeto positivo, que é o "desenvolvimento da língua portuguesa" como justificou a agente Andreia Tristão, de 30 anos, nascida no Canadá, mas filha de emigrantes provenientes da Terceira e de S. Jorge (Açores).
"Uma das vantagens que tenho é ter de falar frequentemente o português. Há oito anos falava muito pouco, mas melhorei bastante porque tenho de falar regularmente a língua materna. Aprendi junto da comunidade. É uma vantagem", reconheceu.
Andreia Tristão, 30 anos, esta há oito anos na polícia, desempenha funções em programas relacionados com a comunidade escolar do ensino secundário. É também a responsável pelos guardas de passadeiras (pessoa civil com formação para assegurar que os peões atravessam as passadeiras em segurança). Destes 33 elementos, 18 são de origem portuguesa.
O comandante da 14.ª Divisão da polícia de Toronto, o superintendente Frank Bergen, mostrou-se satisfeito pela "forte herança deixada por várias gerações portuguesas", existindo atualmente lusodescendentes em diversas funções "importantes" naquela esquadra.
"Eles têm a vantagens não só em comunicarem com a comunidade portuguesa, mas também são excelentes embaixadores da polícia", acrescentou.
Há 33 anos na polícia, o responsável também falou dos portugueses que residem naquela área, como uma comunidade "respeitadora, honesta e bem sucedida nas diversas gerações".
Frank Bergen, concluiu com um apelo aos emigrantes ilegais que se tiveram sido vítimas de alguém crime, que não tenham medo de ir apresentar a respetiva queixa pois a política da polícia de Toronto "não pergunta aos emigrantes o seu estatutos nem os denúncia".
Oficialmente, há 375 mil portugueses ou luso-canadianos no Canadá, mas calcula-se que existam cerca de 500 mil a 600 mil, estando a grande maioria localizada na província do Ontário. Estima-se que 60 a 70% sejam de origem açoriana.