Para os mais de 250 mil emigrantes portugueses na Suíça, a valorização súbita do franco suíço é uma oportunidade para transferirem dinheiro para Portugal. Apesar de o franco ter disparado 16% - depois da decisão do banco central da Suíça em abandonar a taxa de câmbio mínima face ao euro - há quem acredite entre a comunidade portuguesa na Suíça que o valor da moeda ainda vai subir mais.
"As pessoas vão esperar o melhor momento para enviar o dinheiro" diz
Nuno Barreto, que acredita que "o franco só vai atingir o máximo dentro
de dois ou três dias". O português - que viveu cinco anos em Genebra e
que em Portugal trabalha como informático para uma empresa suíça,
recebendo em francos - explica que "a maior parte dos emigrantes mantém o
seu salário na Suíça" e que apenas enviam para os bancos portugueses "o
suficiente para pagar a renda da habitação ou ajudar algum familiar".
Só
quando o franco valoriza é que os emigrantes "aproveitam para enviar
mais dinheiro para Portugal", explica. "Acaba por ser um jogo de risco" ,
admite Nuno Barreto, para quem será este o comportamento da "maioria
dos emigrantes na suíça".
Além do aumento das transferências de
salários, há ainda uma outra tendência que pode vir a surgir nos
próximos dias: a renegociação com os bancos da taxa de conversão fixa.
Ou seja, "os trabalhadores das empresas suíças que não habitam no país
deverão aproveitar para ir ao banco renegociar a taxa de conversão para
euros", prevê Nuno Barreto.
A forte valorização do franco só tem
vantagens para quem transferir dinheiro para fora do país - ou para
quem, por exemplo, viaje para fora da Suíça e faça aí compras. Fernando
Viana, que está na suíça há 24 anos, explica precisamente que apenas
sente "diferença nos preços quando compra produtos fora da Suíça" -
habitante em Genebra, a viagem a França é curta. . O português, que
trabalha no consulado de um país europeu na cidade suíça, mantém todo o
seu salário na Suíça e conta que, pelo menos à sua volta, a reacção dos
suíços à valorizaçao da moeda "está normalizada".
A oportunidade
que a valorização do franco oferece vem, contudo, com um risco: o
impacto na economia e no mercado de trabalho. Algumas instituições, como
o Credit Suisse, reviram a previsão de crescimento do país para metade
este ano (0,7%). A existir ajustamento no emprego, os emigrantes estão
na linha da frente. A Suíça "tem uma taxa muito elevada de emigrantes
que podem ser facilmente despedidos", aponta Nuno Barreto.
A
preocupação, para alguns grupos minoritários, não se esgota na segurança
do emprego. Segundo o sindicato UNIA, que tem associados portugueses,
há funcionários públicos portugueses (professores e funcionários
consulares) em pânico com o impacto que a valorização do franco terá nos
seus salários. A responsável sindical Marília Mendes, citada pela Lusa,
sublinha que os funcionários públicos portugueses recebem o salário em
euros e que a taxa cambial irá provocar uma quebra de 20%, passando
estas pessoas a receber dois mil francos suíços por mês. O ordenado
mínimo na Suíça são quatro mil francos suíços.
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