Por Sérgio Aníbal
O
défice externo português voltou, durante o ano passado, a ultrapassar a
barreira dos 10 por cento do produto interno bruto (PIB), algo que já não
acontecia, de acordo com os dados fornecidos pelo Banco de Portugal, desde
1982, quando o país se viu forçado a aceitar a intervenção do Fundo Monetário
Internacional (FMI).
O Boletim Estatístico publicado ontem pela autoridade monetária nacional coloca
a balança corrente e de capital durante o ano de 2008 num valor negativo de
17.539 milhões de euros. Este número corresponde a 10,5 por cento do PIB
nominal. Em percentagem, o valor poderá ser ainda mais negativo, já que o PIB
nominal utilizado é o estimado pelo Governo no seu último Programa de
Estabilidade e Crescimento (PEC), numa altura em que o forte recuo da economia
no último trimestre de 2008 ainda não era conhecido.
Uma série do défice externo português dos últimos 50 anos solicitada pelo
PÚBLICO ao Banco de Portugal mostra que um valor mais elevado no desequilíbrio
externo da economia portuguesa apenas se verificou em 1981 e 1982, ano em que o
défice da balança de transacções correntes (o conceito então utilizado) foi de
10,8 e 12,9 por cento do PIB, respectivamente.
O ano de 2008 marca uma degradação acentuada deste indicador, que em 2007 tinha
diminuído ligeiramente, situando-se nos 8,2 por cento do PIB.
O principal motivo para esta evolução esteve no agravamento do défice
comercial, ou seja, da diferença entre a importação de bens e serviços e as
exportações, que passou de um valor de 10.771 milhões de euros (6,6 por cento
do PIB) em 2007 para 14.202 milhões (8,5 por cento do PIB) em 2008.
O recuo acentuado das exportações na fase final do ano passado - numa altura em
que as economias dos principais clientes portugueses entraram em recessão -
ajudou a desequilibrar estas contas, já que o abrandamento das importações não
foi tão brusco.
Outro factor a contribuir para a subida do défice externo foi o saldo mais
negativo registado na balança de rendimentos. Este indicador tem vindo a
atingir novos recordes mínimos nos últimos anos devido ao aumento muito rápido
dos juros que os bancos portugueses têm de pagar às entidades estrangeiras às
quais pediram dinheiro. No ano passado, o défice da balança de rendimentos
chegou aos cinco por cento do PIB, contra 4,5 por cento em 2007.
Portugal continua a registar excedentes nas balanças de capital e de
transferências correntes, que incluem as remessas
de emigrantes e os apoios financeiros da UE, mas que ficam longe de compensar o
desequilíbrio registado nas outras áreas.
Público, aqui.