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Retoma económica não vai estancar emigração
2014-10-31
Frédéric Docquier, economista francês, salienta que processo migratório português poderá durar ainda 10, 15 ou 20 anos

Portugal atravessa um momento difícil no que diz respeito aos fluxos migratórios, que poderá durar ainda "10, 15 ou 20 anos", mas o economista Frédéric Docquier está otimista quanto ao futuro do país a longo prazo.

Orador na conferência "Disparidades de rendimento, população e fluxos migratórios ao longo do século XXI", organizada pelo Observatório da Emigração e pela rede Migra no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Frédéric Docquier apresentou um modelo que relaciona o crescimento económico e os fluxos migratórios internacionais.

Em Portugal, o cenário apresenta atualmente três características: aumento da emigração, baixas taxas de imigração e elevada oposição da população autóctone a medidas que promovam atração de estrangeiros.

A emigração passou a estar no centro das preocupações, porque está a aumentar, mas sobretudo porque está a resultar numa "seleção positiva bastante acentuada", observou o investigador, professor de Economia na Universidade Católica de Louvaine (Bélgica) e autor de vários livros e estudos sobre migrações, nomeadamente para o Banco Mundial.

"A última década foi severa em fuga de cérebros" em Portugal, analisou, referindo que o fenómeno assume contornos de "vaga", cujo "efeito deverá aumentar" nos próximos anos.

Esta saída dos cidadãos mais qualificados faz de Portugal "uma exceção" na União Europeia, onde a fuga de cérebros tende a diminuir, reconheceu, acrescentando que os economistas tendem a concluir que os efeitos económicos da emigração são maiores do que os da imigração.

No entanto, antecipa o especialista, Portugal "está a viver uma crise, mas a longo prazo vai convergir". Ou seja, o futuro é mais otimista e nele "a fuga de cérebros tenderá a diminuir".

No que respeita à imigração, a pressão continuará a ser feita pelo hemisfério Sul sobre o hemisfério Norte, situação que tem "um grande impacto" nas comunidades de acolhimento, onde, na maioria, "as pessoas são pessimistas" e consideram que os imigrantes lhes tiram os empregos e pressionam os sistemas fiscal e de segurança social.

O modelo de Frédéric Docquier não prevê um aumento significativo nas taxas de imigração nos países desenvolvidos que não fazem parte da União Europeia, que, por seu lado, estará no centro da pressão migratória, porque é, já hoje, o principal destino para os africanos.

"A pressão migratória sobre a Europa é altamente sensível ao que se passa em África. Um dos grandes desafios para a Europa são as previsões económicas e demográficas para África", frisou.

"A Europa tem mesmo de se preocupar com o que acontece em África", apelou, estimando que o peso do continente, no fluxo migratório, venha a duplicar ou triplicar ao longo do século XXI.

"Se a Europa não prestar atenção, o que atualmente se passa em Lampedusa [na Sicília, em Itália, ilha onde chegam diariamente milhares de imigrantes] não será nada se comparado com o que poderá ser o futuro", alerta.

Frisando que s migrações são hoje "um tema quente", o especialista realçou que o modelo atualmente utilizado pelas Nações Unidas para analisar o fenómeno dos fluxos "não é o mais adequado".

 

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