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Fuga de cérebros: emigrantes licenciados aumentaram 87% numa década
2014-07-21
Reino Unido era o destino de eleição com 19% de licenciados já em 2011, antes da troika chegar. Fuga de cérebros pode ser um problema, admite o Governo no primeiro estudo sobre o fenómeno em 3 anos.

Os licenciados nascidos em Portugal mas residentes noutro país representavam em 2011 quase 11% do total de licenciados em Portugal. O grupo dos emigrantes com diploma académico foi o que mais aumentou em dez anos e a tendência é crescente, conclui um relatório sobre a Emigração divulgado esta terça-feira pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que fala na fuga de cérebros como um "indicador problemático" dos dias de hoje. Reino Unido, Suíça e Alemanha são hoje os principais destinos da emigração portuguesa, já que Espanha perdeu importância com o rebentar da crise na construção civil, para onde ia grande parte dos portugueses sem estudos superiores.

O número de emigrantes portugueses com o ensino superior aumentou mais de 87% numa década, passando de um total de 77.790 em 2001 para mais de 145 mil em 2011. Numa perspetiva comparada com o total da emigração portuguesa, são já 10% os portugueses que emigram com curso superior - há dez anos, o número de emigrantes qualificados não passava de 6%, o que representa um salto de quase 60% neste indicador.

"A taxa de emigração dos qualificados é um indicador problemático da chamada fuga de cérebros", lê-se no relatório assinado pelo secretário de Estado José Cesário.

Mas se é certo que a nova emigração portuguesa é hoje mais qualificada do que no ano passado e nos anos anteriores, "não é possível afirmar" com os dados disponíveis, relativos a 2011, "que essa maior qualificação seja superior à maior qualificação da população portuguesa em geral", salienta o relatório do Governo. É que, no mesmo período de dez anos, o número de portugueses licenciados - residentes em Portugal - também aumentou cerca de 85%, passando de 674 mil cidadãos em 2001 para 1.245 mil em 2011.

FUGA DE CÉREBROS SIM, MAS SEM DRAMA

Enquanto a percentagem de emigrantes licenciados passou de 6 para 10%, a percentagem de licenciados em Portugal passou de 8% em 2001 para quase 14% em 2011, numa variação ligeiramente superior ao crescimento dos emigrantes qualificados. Perante isto, o secretário de Estado das comunidades considera que o aumento da emigração diplomada não é tanto um problema de fuga de cérebros mas um acompanhamento da realidade nacional.

"O aumento da qualificação da população portuguesa emigrada é pois mais um resultado do aumento da qualificação portuguesa do que de uma maior incidência da emigração nos setores qualificados", justifica o relatório.

Mas o Governo admite que, "com o colapso pós-2008 do maior fluxo de emigração portuguesa desqualificada deste século, para Espanha, e o crescimento da emigração para novos destinos como o Reino Unido ou, a um nível ainda muito baixo, para os países nórdicos, é possível que esteja a haver mudanças ainda não registadas na estrutura de qualificação da migração". E, a confirmar-se esta mudança estrutural, a fuga de cérebros é um problema.

Outra ressalva feita pelo Governo perante o crescimento exponencial da fatia de emigrantes licenciados é o facto de os dados disponíveis não permitirem saber onde é que os licenciados emigrados nascidos em Portugal fizeram os seus estudos. "Isto é, não sabemos se esses diplomados emigraram jovens, no quadro familiar, e se diplomaram já no país de emigração ou se, pelo contrário, emigraram já adultos com estudos feitos em Portugal", lê-se no relatório.

A diferença, diz o governante, "pode ser significativa". A título de exemplo, em 2001, lê-se no relatório, as estimativas do Banco de Portugal davam conta de que a percentagem de emigrantes diplomados nascidos em Portugal era de 20%, mas descia para 13% se se considerasse apenas os licenciados que emigraram com mais de 22 anos.

Ainda assim, se quisermos caracterizar a escolaridade da população portuguesa emigrada, continuam a ser em maior número os emigrantes que têm apenas o ensino básico (61% do total de emigrantes portugueses), e os que têm o secundário (27,5% da população emigrada). Os níveis mais baixos de escolaridade, no entanto, estão em queda, já que, contrastando com o aumento de 87% dos emigrantes diplomados, os emigrantes que têm apenas o ensino básico só aumentaram 6% num período de dez anos.

NEXT STOP: REINO UNIDO

O Reino Unido é hoje o principal destino da emigração portuguesa - representou 50% do fluxo migratório de 2013 - e o principal destino dos emigrantes qualificados. A Suíça vem a seguir, tendo-se mantido constante como importante foco de emigração portuguesa desde o final da década de 80, e a Alemanha reaparece no mapa como um dos principais destinos de emigrantes qualificados. Para quarto lugar cai a Espanha, que está hoje a assistir a um ligeiro decréscimo da população portuguesa emigrada com o colapso da construção civil que veio com a crise financeira de 2008. Um sinal do "colapso da emigração portuguesa mais desqualificada e precária", lê-se no relatório. Ainda assim, entre 2000 e 2013 o número de portugueses residentes em Espanha aumentou para mais do dobro.

Já em 2001 o Reino Unido, juntamente com a Bélgica e os EUA, se destacava como o destino de topo para os portugueses com diploma académico, representando cerca de um quinto do total de emigrantes portugueses licenciados. Em 2011, 19% dos emigrantes portugueses a viver naquele país eram licenciados. Pelo contrário, no Luxemburgo, onde a emigração portuguesa continua a representar o maior fluxo de entradas no país, apenas 3% do total de emigrantes portugueses tem curso superior, sendo o país que recebe menos mão-de-obra qualificada. Na Suíça, a percentagem de diplomados portugueses em 2011 era de 5%.

A acompanhar a tendência do Reino Unido, Suíça e Alemanha - top 3 do atual fluxo migratório português - a Europa tem sido, de resto, o continente de eleição da comunidade portuguesa emigrada, culpa da crise financeira de 2008, que acentuou esta tendência. Hoje, estão na Europa entre 80 a 85% dos emigrantes portugueses, 10 a 12% estão em Angola e Moçambique, e apenas 1% está no Brasil. Mas se, por exemplo, o crescimento dos emigrantes portugueses na Alemanha foi de apenas 6% entre 2001 e 2011, na Suíça o aumento foi de 68%, no Luxemburgo de 46%, e no Reino Unido foi de 150%.

Depois de um ligeiro recuo na emigração nos primeiros anos da crise, entre 2008 e 2010, a emigração portuguesa tem estado em forte e rápido crescimento. Em 2012 estima-se que tenham saído de Portugal mais de 95 mil portugueses, principalmente para o Reino Unido, Suíça e Alemanha, mas também para países europeus economicamente mais fortes como a Bélgica, a Holanda e países escandinavos.

Segundo o relatório, a população portuguesa emigrada representa hoje mais de um quinto da população total residente, sendo já o segundo país da União Europeia com mais emigrantes em percentagem da população (20,8%). Em contrapartida, é um dos países com a percentagem de imigrantes mais baixa da UE (8,6% se contarmos com os retornados das ex-colónias e 6% se excluirmos os retornados). Números alarmantes que, nota o relatório, mostram um país que está em redução populacional.    

 

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