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Portugueses a preto e branco em exposição em Paris
2014-05-03
A exposição “Rostos – Do Visível ao Invisível”, patente no Consulado de Portugal em Paris, pretende fazer um retrato dos emigrantes portugueses para desmistificar os preconceitos associados a esta comunidade, disse à Lusa um dos autores do projeto.

"A exposição tem 25 retratos, acompanhados pelos depoimentos dessas pessoas. Os depoimentos têm a ver com a perceção que cada um tem do que é ser português em França, o seu posicionamento face aos clichés que existem e face à sociedade francesa em geral", disse à Lusa o fotógrafo e jornalista português Ricardo Figueira, que reside em Lyon há 15 anos.

O projeto, realizado em conjunto com a investigadora lusofrancesa Elisabete Machado, nasceu da vontade de mostrar que nem todos os portugueses são trolhas, nem todas as portuguesas porteiras.

"Muita gente em França tem a ideia que o português está limitado a duas ou três profissões, como a mulher-a-dias, a porteira e o homem das obras, e que somos todos morenos, baixinhos e com bigode", ironizou o fotógrafo.

"Eu não quero lutar contra os clichés nem afirmá-los. Quero é dizer: há pessoas de todos os tipos físicos, de todas as idades, de ambos os sexos, a fazerem todas as profissões, espalhadas por toda a França", acrescentou.

Para diferenciar os retratados, Ricardo Figueira optou pela fotografia a preto e branco que enobrece os rostos e, na maior parte dos casos, retirou-lhes qualquer atributo de distinção profissional.

"São todos a preto e branco porque o preto e branco é intemporal. Tentei fazer imagens diferentes dos retratos tipo passe que estão na moda na fotografia contemporânea. Quis fazer retratos que fossem ao mesmo tempo clássicos mas com alguns elementos que marcam a diferença, como os reflexos e o jogo de olhares", disse.

No Consulado de Paris estão apenas expostas 25 fotografias, mas o projeto contempla 40 retratos de pessoas que emigraram há meio século, outras que já nasceram em França e outras, ainda, que acabaram de emigrar.

Questionado sobre as diferenças nos depoimentos, o fotógrafo referiu que "os emigrantes mais recentes vieram por necessidade ou para estudar e veem a emigração de uma forma completamente diferente das pessoas que vieram há 50 anos".

"Rostos" não pretende ser um trabalho sociológico, mas acaba por documentar um ciclo - o da emigração portuguesa para França. Nos anos 1960, foram milhares os que fugiram de Portugal "a salto" e hoje milhares voltam a sair do país.

"As razões para emigrar são várias, mas há sempre uma conjuntura económica que faz com que as pessoas queiram mudar de país. Aconteceu há quarenta anos e está a acontecer agora", disse.

A exposição "Rostos - Do Visível ao Invisível" está patente até 20 de junho no Consulado de Portugal em França, em Paris, depois de ter passado por Saint-Etienne e Vila Nova de Gaia, estando também prevista para Montpellier, em junho. Os autores prometem transformar a exposição em livro até ao final do ano.

 

Lusa, Açores 9, aqui.

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