Direção editorial
O problema da baixa natalidade há muito que está identificado. E não é de hoje. Desde 2009, a relação entre mortes e nascimentos em Portugal inverteu-se. Morrem todos os anos mais pessoas do que aquelas que nascem e há demógrafos que já auguram que em 2061 seremos apenas sete milhões. A recessão económica não é a única explicação. Mas é a mais óbvia, palpável e mensurável.
Ao fenómeno da baixa natalidade vão-se juntando dois outros igualmente preocupantes: maior emigração e menor imigração. O PÚBLICO faz hoje um retrato dos novos emigrantes; sendo que por ano são mais de cem mil os que abandonam o país. Não gostam da palavra e da conotação do termo "emigrante". Preferem expatriados, dizem ser pessoas em trânsito, e que têm um discurso da mobilidade, da globalização e do cosmopolitismo. Portugal será o único país intervencionado pela troika que vai sair do resgate com menos população do que quando foi intervencionado.
A curto prazo, o efeito deste êxodo na economia até pode ser positivo: chegam mais remessas, o que ajuda a equilibrar a balança externa, ajuda a alindar as estatísticas do desemprego e baixa o valor dos subsídios a pagar. Mas a prazo, as perdas demográficas e o envelhecimento da população têm efeitos bastantes nefastos para a produtividade e poderá ser o factor que vai desestabilizar de vez a já bastante desequilibrada balança das contribuições e prestações da Segurança Social.
Não se pode obrigar estrangeiros a vir para Portugal e impedir portugueses de rumar a outras paragens. E a economia tarda em crescer. Mas uma política de natalidade consistente, apesar de só ter efeitos a prazo, é determinante. Daí a grande expectativa sobre os resultados da comissão anunciada por Passos Coelho no Congresso do PSD para propor medidas para incentivar a natalidade.
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