FERNANDO NAKAGAWA, CORRESPONDENTE / LONDRES - O Estado de S.Paulo
Portugal perde habitantes desde 2010. Castigados pela crise financeira, desemprego e com poucas perspectivas no curto prazo, milhares de portugueses têm saído do país em busca de trabalho. Parte deles migrou para o Brasil e o fenômeno começa a aparecer nos números: a remessa de dinheiro feita por portugueses no Brasil para suas famílias em Portugal cresceu 33,7% nos últimos 12 meses. Esse foi o maior aumento entre todos os dez países acompanhados pelo Banco de Portugal.
Números do banco mostram que as transferências com origem no Brasil ganham força mês após mês. Em 12 meses, até setembro, foram 14,3 milhões em remessas de migrantes que estão em solo brasileiro. O valor cresceu 5,5% em um trimestre e saltou 62,2% em dois anos.
O movimento com origem no Brasil destoa do observado em outros países. As remessas vindas da França, por exemplo, aumentaram 3,5% no último ano. A França é a principal fonte de remessas do exterior para famílias portuguesas. Transferências de outros países também cresceram menos: 17,9% na Alemanha, 6,8% da Suíça e 0,4% dos Estados Unidos. No total global, a entrada de remessas cresceu 9,5% em um ano.
Apesar do crescimento, as remessas de origem brasileira ainda são pequenas na comparação com outras tradicionais fontes de recursos para as famílias portuguesas. Nos 12 meses até setembro, foram 871 milhões enviados da França e 719 milhões da Suíça. Ao todo, Portugal recebeu 2,911 bilhões em um ano. Ou seja, o Brasil ainda representa apenas 0,5% do montante.
Filipa Pinho, pesquisadora do Observatório da Emigração do Instituto Universitário de Lisboa, afirma que as transferências do Brasil ainda são pequenas, mas reconhece que há uma tendência de aumento e que isso é resultado de um novo e recente movimento migratório. Uma das características dessa nova onda, diz, é que essa migração acontece no rescaldo do boom do setor financeiro em Portugal. Por isso, muitas pessoas saem do país com dívidas, especialmente financiamentos imobiliários.
"Diante disso, é esperado que as remessas de dinheiro comecem o mais rápido possível porque há dívidas para pagar", explica a pesquisadora. Além disso, como Portugal amarga desemprego elevado, muitos enviam recursos para ajudar suas famílias. Entre os países que mais têm recebido portugueses, estão Alemanha, Reino Unido e Suíça na Europa, além de Brasil e Angola.
Levantamento. Dados do Observatório da Emigração e do Sistema de Gestão Consular da diplomacia portuguesa mostram que o número de portugueses registrados no Brasil aumentou em cerca de 65 mil desde 2008, ano do estouro da crise. No ano passado, eram 558,7 mil portugueses oficializados nos consulados do Brasil. O número, porém, é maior, dizem especialistas, já que muitos que chegaram há pouco tempo estão em situação irregular após ingressarem no Brasil como turistas. "Isso é muito recente e há pouca informação sobre quem são esses portugueses. Em princípio, são pessoas qualificadas, com inserção profissional e bem pagas. É diferente do movimento migratório para países como França ou Suíça, onde os trabalhadores têm menos qualificação", diz Filipa, ao comentar que há indicação de que a maioria dos novos portugueses no Brasil tem trabalho qualificado, como arquitetos, engenheiros, designers e médicos.
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