O sociólogo João Teixeira Lopes alertou esta terça-feira em Paris para a
 existência de jovens licenciados que emigram para França para escapar à
 precariedade e que são «invisíveis perante as instituições e perante a 
diplomacia».
«Estes jovens que estão também agora a escolher a 
França, embora não maioritariamente, por serem invisíveis, por não serem
 registados pelas instituições, por não terem registo no espaço 
Schengen, por não serem considerados migrantes, têm que ser estudados», 
disse o professor da Universidade do Porto à agência Lusa na 
apresentação do seu estudo «Novos emigrantes para França».
«Na 
verdade [estes jovens] significam, em muitos casos, competências, 
talentos, capital humano que está neste momento a ser exportado pelo 
país. É preciso saber se eles mantêm laços fortes com o país de origem. 
São jovens invisíveis perante as instituições e perante a diplomacia que
 tem grande dificuldade em registá-los», acrescentou o ex-deputado pelo 
Bloco de Esquerda.
«Esta nova vaga é feminizada [74,3 por cento 
de mulheres e 25,7% de homens] qualificada, planeia a viagem e vai para 
França porque quer deixar de ser jovem. Estão fartos. Em Portugal só 
podem ser jovens, isto é, precários, intermitentes, constantemente 
adiando o futuro, permanecendo até muito tarde em casa dos pais, sem 
qualquer capacidade de constituírem família», descreve o professor.
De
 pais menos escolarizados, com situação profissional favorável, quando 
chegam a França vão trabalhar por conta de outrem, mas rapidamente 
conseguem emprego por conta própria, fundando pequenas empresas e 
convidando colegas para se juntar eles.
Os domínios de formação 
contemplam a fisioterapia, enfermagem, engenharias, finanças, gestão e 
economia, onde a saúde domina. Os jovens emigrantes apontam como 
principais razões para sair de Portugal a possibilidade de encontrar, em
 França, uma situação profissional onde os seus conhecimentos sejam 
reconhecidos, a possibilidade de carreira e a estabilidade.
A 
maioria destes jovens vive com outros colegas para fazer face às 
despesas de habitação em França Regresso improvável no médio prazo, 
apesar de estarem em França contrariados. Metade quer regressar, metade 
não quer, sendo que mesmo o que querem regressar não vislumbram isso. Só
 regressam se tiverem condições.
A investigação, que se centrou 
em jovens entre os 20 e os 35 anos, qualificados e emigrantes em França,
 serviu para desmistificar a ideia de que «as novas gerações não estão 
tão voltadas para os valores familiares».
Teixeira Lopes refere 
que na sua amostra está vincada a vontade dos jovens em se tornarem 
adultos como motivo para saírem de Portugal, onde não conseguem «ter 
casa própria, constituir família e ter uma carreira».
«Não é por desespero nem por exclusão. É porque em Portugal não conseguem passar à condição de adultos», garante o investigador.
O
 professor adiantou que faz parte de «uma equipa com investigadores de 
várias universidades que está neste momento a estudar os vários destinos
 europeus e os vários perfis».
«Temos uma multiplicidade de 
situações características de emigração contemporânea, ela é muito mais 
diversa», explicou o sociólogo que garante que «a grande novidade é a do
 norte da Europa».
«Países como a Suécia, a Noruega ou o Reino 
unido, que são países que escapam à crise atual e que mantêm, no caso 
dos países nórdicos, um estado de providência forte. E há alguma 
reativação, embora mais discreta nestes casos, para países como a Suíça e
 a Alemanha».
O estudo «Novos emigrantes para França» foi 
encomendado pela secretaria de Estado das Comunidades, foi debatido no 
âmbito do «Ciclo de debates - Portugueses de França» organizado por 
meios de comunicação portugueses em França, Rádio Alfa e LusoJornal, e o
 Consulado Geral de Portugal em Paris.
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