A Suíça é pátria de acolhimento para muitos recém-licenciados portugueses, com destaque para os arquitectos, que procuram o país como destino para fugir à crise e aproveitar a estabilidade em Portugal.
"É uma tendência geral que se pode observar", afirmou à Lusa Marília Mendes, dirigente do sindicato suíço UNIA e responsável pelo acompanhamento da comunidade portuguesa.
Nuno Carvalho, de 29 anos, chegou à Suíça à procura de um emprego em arquitectura que não conseguia em Portugal: "como já tinha alguns amigos que conseguiram emprego, também vim tentar a minha sorte", justifica.
O jovem emigrante português juntou-se a um pequeno grupo de arquitectos em Genebra que já estavam na Suíça
João Pontes, também de 29 anos, teve sorte, porque conseguiu logo um contrato sem termo. Mas os primeiros tempos foram difíceis, devido ao estágio profissional.
Os primeiros meses são marcados pela "ginástica financeira" até porque o custo de vida na Suíça é muito elevado.
Antes de se instalar de vez na Suíça, em Março 2011, Tiago Castro, 27 anos, enviou vários portefólios e currículos. Foi assim que ele conseguiu seu primeiro contrato de estágio em Genebra.
"Estou contratado como arquitecto, a tempo indeterminado, a ganhar mais ou menos 5000 francos, a qualidade de vida é mais ou menos equivalente a um salário de 1200/1500 euros em Portugal", explicou o jovem, que espera voltar a Portugal, depois da crise.
Também arquitecta, Ana Sá, 27 anos, quis sempre trabalhar no estrangeiro. A Suíça foi o único país que lhe abriu as portas: "enviei currículos e portefólio para vários ateliers, na Suíça e noutros países. Não recebi uma única proposta de estágio remunerado de outro país que não a Suíça".
Para já, não pensa voltar para Portugal. "Tenho melhores oportunidades de aprendizagem e crescimento profissional na Suíça", explica.
A relação com a comunidade emigrante portuguesa também foi fácil, até porque esta nova geração tem mais qualificações mas não rejeita as raízes.
"A comunidade portuguesa na Suíça adaptou-se muito bem ao país. O trabalho e a dedicação daqueles que chegaram antes, fez com que a minha geração fosse muito bem recebida por cá", diz Nuno Carvalho.
Apesar do sucesso na integração profissional, o secretário do sindicato UNIA/Genebra, Manuel Fazendeiro, alerta para o aproveitamento por parte das empresas.
Nalguns casos, os patrões optam por levas de estagiários em vez de investirem em contratos sem termo. E noutros, os recém-imigrados aceitam salários inferiores às convenções colectivas por falta de conhecimento da legislação.
"As pessoas emigram por necessidade e sujeitam-se porque não conhecem seus direitos", diz o sindicalista, que emigrou para Suíça há mais de 30 anos.
Na Suíça não existe salário mínimo fora dos acordos sectoriais entre sindicatos e patronato. De facto, só 40% do mercado de trabalho está ligado ao sindicato e o resto não está sujeito a qualquer regra mínima de pagamento.
Genebra é o único cantão que tem uma convenção colectiva, estabelecendo um salário mensal mínimo de cerca de 4000 euros para os arquitectos no primeiro ano de trabalho.
Nos dados publicados recentemente pelo observatório federal das migrações (ODM), até agosto 2013 chegaram 15.874 Portugueses à Suíça, constituindo o grupo maior de recém-imigrantes.
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