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O sociólogo Aníbal de Almeida alertou ontem, na Faculdade de Ciências
Sociais da Universidade Católica Portuguesa, que "a exploração" social e
laboral voltou à comunidade de emigrantes portugueses em França.
Na abertura do colóquio ‘Protecção Social e Migrações', iniciativa que
assinalou a inauguração do arquivo com o seu nome, o ex-provedor da
Misericórdia de Paris constatou a desmontagem da rede de assistência aos
emigrantes em França, criada após a 2.ª Guerra Mundial, uma realidade
que deixa sem respostas adequadas "situações dramáticas" vividas pelos
"novos emigrantes" cujo número aumenta de ano para ano.
Aníbal de Almeida, que emigrou para França em 1965, afirmou que, nas
últimas décadas, o apoio social aos emigrantes lusos em França foi
reduzindo, sendo que floresceram recentemente situações de exploração
ao nível da cobrança de serviços ou de promessas de condições laborais
não cumpridas. "As situações dramáticas aumentam em qualidade e
gravidade", alertou.
Portugal sempre foi país de emigrantes
No mesmo colóquio, outra socióloga, Engrácia Leandro, apontou a
"emigração com formação académica" como "um fenómeno inédito na nossa
história".
Uma das sociólogas que mais se tem estudado a emigração portuguesa,
Engrácia Leandro afirmou que este movimento social "nunca deixou de se
verificar". Exceptuando os anos de 1999 a 2002, as saídas de pessoas
para o exterior foram sempre superiores às chegadas de imigrantes a
Portugal.
Numa comunicação intitulada ‘Lógicas migratórias: custos e benefícios', a socióloga que viveu em Paris nos anos 80 salientou que "as remessas dos emigrantes continuam a ser fundamentais para a economia portuguesa".
Biblioteca da ‘Católica' guarda documentos da emigração em França
A Biblioteca do Centro Regional de Braga da Universidade Católica
Portuguesa tem, desde ontem, uma sala reservada ao Arquivo Aníbal de
Almeida. Bibliografia e documentação reunida por um homem que foi
coordenador dos agentes de acolhimento dos emigrantes portugueses nas
estações de caminho-de-ferro em Paris, relações públicas do Comité
Liautey (1967-70), fundador da Associação Inter-Services-Migrants
(1970-71) e que esteve na criação da delegação de Paris
do Secretariado Nacional da Emigração está agora disponível para
investigadores interessados no fenómeno da emigração lusa em França.
Presente no acto simbólico de inauguração do Arquivo, o arcebispo de
Braga, que preside à Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade
Humana, afirmou que o estudo dessa diáspora pode ser uma grande ajuda
para ajudar à integração e protecção social dos novos emigrantes
portugueses. "A igreja não pode alhear-se deste novo fenómeno
migratório", disse D. Jorge Ortiga.
Aníbal de Almeida referiu que o arquivo doado à Universidade Católica
Portuguesa reúne documentação importante para conhecer a acção pastoral e
social da Igreja Católica junto das comunidades emigrantes em França,
mas também espólio do antigo Secretariado Nacional da Emigração que
correu o risco de se perder.
José Carlos Miranda, director da Faculdade de Ciências Sociais da
Universidade Católica Portuguesa, considerou o Arquivo Aníbal de Almeida
"um testemunho da obra da Igreja" junto dos emigrantes em França.
Nos próximos meses, o Arquivo é enriquecido com mais documentação que estava à guarda do ex-provedor da Misericórdia de Paris.
Correio do Minho, aqui.