Victor Ferreira
A Alemanha registou em 2012 a entrada de 1,081 milhões de pessoas entre novos emigrantes e alemães que regressaram ao país.
Segundo dados oficiais divulgados nesta terça-feira em Wiesbaden, pelo Statistische Bundesamt (equivalente alemão ao INE), o saldo migratório é positivo: a diferença entre entradas (1,081 milhões) e saídas (712 mil) cifrou-se em 369 mil pessoas, o número mais elevado desde 1995.
A Alemanha não atraía tanta gente desde há quase duas décadas e os países do Sul e do Leste da Europa foram aqueles que mais contribuíram para este cenário. O número de portugueses que emigraram subiu 4000 (mais 43%) do que em 2011. Espanha (mais 9000 ou 45%) e Grécia (mais 10 mil ou 43%) registaram as maiores taxas de aumento. De Itália partiram para a Alemanha mais 40% de pessoas (mais 12 mil) quando comparado com 2011. O número total de portugueses que o instituto regista terem dado entrada no país ronda os 12 mil, um valor que está ao nível do de 2000, após mais uma década em que as entradas provenientes de Portugal se situaram sempre abaixo dos dez mil.
A crise económica desses países pode ajudar a explicar esta realidade, bem como a aposta que o Governo de Berlim fez em atrair trabalhadores estrangeiros para o seu mercado de trabalho, de modo a fazer face a necessidades específicas de uma economia que tem vindo a abrandar mas que mantém uma saúde quase de ferro, quando comparada com as congéneres europeias.
Desde 2004 que há avisos para a falta de mão-de-obra especializada na Alemanha e para as consequências do envelhecimento populacional. Em Outubro de 2010, o presidente do Instituto Alemão de Economia, Klaus Zimmerman, voltou a alertar para o problema. "A partir de 2015 perderemos por ano 250 mil trabalhadores", disse na altura. Os dados do instituto alemão de estatística não especificam que tipo de trabalhadores ou qual o perfil laboral dos que compõem o universo dos que se fixaram naquele país em 2012, mas tendo em conta que em finais de 2010 e início de 2011 a Alemanha andou a "seduzir" mão de obra qualificada em Portugal, Itália e Espanha, bem como de outros países, esta vaga pode incluir essa mão de obra qualificada.
O crescimento do PIB tem vindo a encolher (+4,2% em 2010, +3% em 2011 e +0,7% em 2012). A taxa de desemprego era de 5,7% no fim de Março deste ano, a segunda mais baixa dos 27 países da União Europeia (UE) e quase metade da média da UE ou mesmo menos de metade da média na zona euro.
Porém, em valor absoluto, os países que mais emigrantes "deram" à Alemanha foram a Polónia (68.100), a Roménia (45.700), Hungria (26.200) e Bulgária (25.000).
O instituto alemão conclui, baseado nos números, que os países da UE são os maiores fornecedores de pessoas, que escolhem sobretudo cinco estados federados como destino: Baviera (capital Munique, 192 mil pessoas), Renânia do Norte-Vestefália (capital Düsseldorf, 186 mil), Baden-Württemberg (capital Estugarda, 171 mil), Hessen (capital Wiesbaden, 90 mil) e Baixa-Saxónia (capital Hanôver, 89 mil). Ou seja, são os cinco mais populosos (não pela ordem aqui elencada) e alguns dos mais ricos - só cidades-estado como Hamburgo e Bremen, com populações muito menores do que qualquer um daqueles estados, têm um PIB per capita superior.
Isto sugere que quem procura a Alemanha tenta fixar-se nos centros industriais e tecnológicos da maior economia europeia (como a Renânia, a Baviera e Hessen, onde se situam gigantes da indústria automóvel, tecnológicas e financeiras); ou zonas onde a agricultura é um pilar da economia, como a Baixa-Saxónia; ou onde o Turismo desempenha um papel importante, como Baden-Württemberg.
Os dados do instituto indicam ainda que o número de entradas no país cresceu sobretudo à custa de estrangeiros, já que o número de alemães que regressaram (115 mil) no último ano é praticamente igual ao de 2011.
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