O Conselho Federal decidiu ativar uma cláusula de
salvaguarda prevista no acordo sobre livre circulação de pessoas
assinado com a União Europeia (UE) em 2002.
Esta cláusula é uma
opção de controlo que permite à Suíça estabilizar de forma unilateral as
quotas máximas de títulos de residência, de curta e longa duração,
decisão que vai afetar os cidadãos portugueses que pretendem emigrar
para a Suíça.
A ministra da Justiça e Polícia suíça, Simonetta
Sommaruga, anunciou a 24 de Abril, em conferência de imprensa, que são
visados desde já os trabalhadores da Estónia, Hungria, Letónia,
Lituânia, Polónia, Eslováquia, Eslovénia e República Checa. A partir de
01 de maio, serão abrangidos os trabalhadores de todos os países da EU,
onde se inclui Portugal.
Esta medida era reclamada pelos partidos de direita mas contestada pela esquerda e pelas entidades patronais.
O
assunto da imigração ganhou visibilidade na Suíça sobretudo devido ao
expressivo aumento no número de autorizações de residência para efeitos
de trabalho emitidos desde 2009 para cidadãos oriundos do sul da Europa.
Entre
janeiro e agosto de 2012 emigraram para a Suíça mais de 12.300
portugueses. A comunidade portuguesa na Suíça está estimada em 240 mil
pessoas.
Medida "contrária" aos interesses do país
O dono de uma
exploração agrícola de 18 hectares em Galmiz no cantão bilingue de
Friburgo (alemão e francês), que há décadas emprega portugueses,
manifestou-se "apreensivo" com a medida, considerando-a "contrária aos
interesses do país". Thomas Wyssa emprega actualmente 12 portugueses,
três a tempo inteiro e os restantes com contrato de trabalho sazonal
(válido por um ano), que termina em dezembro.
À agência Lusa, o
empresário disse que o seu negócio seria "seriamente prejudicado", já
que essa decisão dificultaria a contratação de novos trabalhadores
estrangeiros, uma mão-de-obra "imprescindível", sobretudo no verão.
"Conto
com trabalhadores portugueses há quase três décadas. Alguns (os
sazonais) voltam cá todos os anos e já conhecem bem os cantos à casa",
explicou o dono da exploração, onde se fala francês para "facilitar a
comunicação". "Se essa decisão for em frente, a burocracia vai aumentar e
vai ser muito difícil e moroso contratar portugueses", com quem,
sublinhou, já está "habituado a trabalhar" e a quem reconhece "muito
empenho no trabalho".
Uma das porta-vozes da Agência Federal para a
Imigração Suíça (BFM, na sigla em alemão) explicou à Lusa que a "opção
de controlo" só pode ser acionada para a Zona Euro quando o "número de
novos títulos de residência para efeitos de trabalho atribuídos, no
espaço de um ano, ultrapasse em 10 por cento a média dos últimos três
anos".
"Complicar a vida"
Mas há emigrantes portugueses que
não vêem com bons olhos a actual leva de emigração nacional para aquele
país. Deolindo Moreira reconhece que todos têm direito a procurar
trabalho na Suíça, tal como ele fez há dez anos, mas admite que "a
fartura de portugueses" está a "complicar a vida" a todos os que já lá
estão.
"Para quem cá está (na Suíça), até certo ponto era bom que não
entrassem muitos. Agora é claro que para quem vem, era bom entrar, tal
como nos fizemos", afirmou à Lusa o emigrante português de 43 anos.
Natural da Póvoa de Varzim, Porto, onde trabalhava como pintor de
automóveis, Deolindo Santos Moreira emigrou em 2003 depois de o seu
patrão ter sido "obrigado a fechar o negócio, porque os clientes não
pagavam". "Como tinha 33 anos, decidi arriscar e inscrevi-me numa
agência de trabalho (...) Nem sabia para onde ia nem para que lado era a
Suíça", lembra. Teve sorte. Arranjou um emprego na exploração agrícola
no cantão bilingue de Friburgo, onde uma década depois continua a
trabalhar, já como efetivo. Um trabalhador sazonal novato começa por
receber um salário líquido de aproximadamente 2.500 francos (cerca de
dois mil euros), aquém do que receberia um suíço, mas "suficiente para
viver uma vida tranquila", explica, revelando que o patrão "só quer
portugueses". "O português come e cala-se, como se costuma dizer", diz.
Passados
quatro anos de trabalho árduo, Deolindo conseguiu levar a mulher e os
filhos. Ambos estudam agora e "dificilmente vão deixar a Suíça". A
mulher trabalha numa fábrica de bolachas na região de Fribourg, onde
vivem e se sentem "bem integrados".
Quando chegou à Suíça, conta, os
patrões ainda tinham dificuldade em arranjar mão-de-obra para os campos.
"Agora não falta aqui pessoal a bater à porta a pedir trabalho. Com a
fartura de portugueses que vem cá para cima, a situação está mais
complicada", alerta. É sobretudo da zona norte, Felgueiras, do lado da
Guarda, Lamego, mas também de Viseu que mais pessoas chegam, diz.
"Muitos
arriscam vir com a mulher e com os filhos, sem terem absolutamente
nada. Nenhum emprego em concreto. Quando dá para o torto, ficam a dormir
nos carros até arranjarem trabalho. Está mesmo mau", lamenta.
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