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Presença portuguesa depende de lusodescendentes e investimentos
2013-04-12
O investigador lusovenezuelano Abreu Xavier defendeu que a emigração de Portugal para a Venezuela acabou na década de 1980, passando agora o futuro das relações entre os dois países pelo papel dos lusodescendentes e pelo dinamismo dos investimentos portugueses.

por Agência Lusa, publicado por Susana Salvador

"Temos que aproveitar esta onda da balança comercial a favor de Portugal. Se a diplomacia económica continuar a ser bem trabalhada, se alargarmos os investimentos [...] aos pontos fracos da economia venezuelana e aproveitarmos a lusodescendência [...] para fazer uma transferência de tecnologia, de conhecimentos e de investimentos, com retorno para Portugal, há possibilidades", disse à agência Lusa António Abreu Xavier.

Filho de pais madeirenses, António de Abreu Xavier é licenciado e doutorado em História pela Universidade Central de Caracas e tem-se distinguido na investigação das relações entre a Europa, particularmente Portugal, e a Venezuela através da emigração.

Atualmente a residir em Portugal, trabalha como investigador na Universidade de Évora, desenvolvendo uma pesquisa sobre a presença portuguesa na Venezuela no período entre a independência do país e 1940.

Reconhecendo que se corre o risco de os lusodescendentes serem assimilados pela "cultura cosmopolita venezuelana", o que resultaria a prazo na diluição da presença portuguesa, o investigador garantiu que os lusovenezuelanos se "sentem muito identificados com a cultura portuguesa".

"Muitos lusovenezuelanos perderam a imagem que tinham do Portugal imóvel e estático", disse.

A imagem deste novo Portugal tem motivado o interesse pela aprendizagem da língua e a vontade de afirmação das raízes, traduzida, por exemplo, na criação de organizações profissionais de originários portugueses, adiantou.

A comunidade tradicional na Venezuela conta, segundo dados das autoridades portuguesas, cerca de 400 mil pessoas, oriundas sobretudo da Madeira e de Aveiro, mas os números oficiosos apontam para a existência no país de uma comunidade de emigrantes e lusodescendentes estimada em 1,3 milhões de pessoas.

Para António Abreu Xavier, desde 1985 que deixou de se poder falar em emigração portuguesa para a Venezuela.

"A partir de 1983 começa um forte retorno de portugueses [da Venezuela], que em 1985 já é muito acentuado. A partir daí, falar de emigração para a Venezuela já é muito difícil porque os saldos [migratórios] são negativos", disse.

António Abreu Xavier sublinhou a evolução dos emigrantes portugueses no país, que rapidamente passaram de trabalhadores rurais a comerciantes ou pequenos empresários, destacando a mais recente aposta na formação académica dos lusodescendentes, que lhes abriu portas a uma maior participação cívica e política.

"Há um salto em termos de visibilidade pública que passa a ser responsabilidade dos filhos. Temos tido exemplos que são ícones na vida política", disse, apontando a participação de lusovenezuelanos no atual Governo e na Assembleia Nacional.

A dois dias da realização de eleições presidenciais antecipadas na Venezuela, devido à morte em março de Hugo Chávez, António Abreu Xavier traçou o retrato de uma comunidade que acompanha as preocupações e as esperanças da generalidade da população venezuelana.

"Há uma forte tendência para partilhar os objetivos sociais do atual Governo e uma oposição política que é muito evidente. Muitos concordam com o Governo, sobretudo pelo apoio à população [carenciada], mas em termos políticos misturam isto com os objetivos do que é o socialismo do século XXI e, aí, não concordam", afirmou o investigador.

Sobre o relacionamento da comunidade portuguesa com o poder político que sair das próximas eleições, António Abreu Xavier não tem dúvidas que os vínculos se irão manter.

"Visto os interesses existentes a nível comercial e, tendo-se construído uma ponte muito sólida, baseada nos laços históricos e na necessidade de um intercâmbio comercial, penso que a relação binacional vai continuar por bom caminho", disse.

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