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Novos emigrantes frustrados por falta de emprego compatível com qualificações
2013-04-12

O historiador Victor Pereira defendeu que os emigrantes atuais criam um "sentimento de frustração" por não conseguirem encontrar de imediato, no país para onde emigram, um emprego à altura das suas qualificações.

"Os portugueses muitas vezes estão obrigados a ter trabalhos para os quais têm qualificações a mais", o que "cria, obviamente, um sentimento de frustração", explicou o historiador luso-francês à Lusa, à margem da sua conferência sobre a emigração clandestina da Península Ibérica para França, de 1945 a 1974.

"A grande diferença com a emigração dos anos 60 e 70 é que naquela altura havia trabalho", sublinhou.

Nos anos 60 e 70 "as pessoas quando saiam, endividavam-se, atravessavam os Pirenéus de forma clandestina e viviam em barracas. Foi uma emigração muito difícil, e no início muito precária", disse.

"Mas sabiam que muito rapidamente iam encontrar um trabalho, pagar as dívidas que tinham e que aos poucos podiam construir uma casa em Portugal, tentar juntar algumas poupanças para voltar. Só que agora a situação é bastante diferente: em França o desemprego é muito alto" além de assistirmos a "uma Europa em estagnação", acrescentou Victor Pereira.

De acordo com o historiador, estamos a assistir a um ciclo migratório.

Nos anos 50, 60 e 70 os portugueses emigraram para procurar trabalho noutros países, de seguida, nos anos 90 e 2000, assistiu-se a uma forte entrada de estrangeiros que procuravam trabalho em Portugal. Neste momento, os portugueses voltam a sair em massa do país.

"A emigração, nos anos 90, início de 2000, quase que tinha desaparecido dos 'media', falava-se de imigração. Portugal era um país moderno, como a França, a Alemanha ou a Inglaterra, que também recebia imigrantes. Era a prova de que Portugal pertencia à Europa desenvolvida".

"Falava-se dos emigrantes como uma coisa que não se queria ver, porque eles representavam tudo o que Portugal não queria ser: um país pobre, arcaico. E os portugueses em França eram vistos como restos do Antigo Regime", acrescentou.

Para o historiador, "quando se falava de emigração, nos anos 90, era para dizer que a emigração pertencia ao passado. [mas] O passado regressou ao presente" e a emigração voltou a ser um tema mediático.

Para Victor Pereira não é possível prever se Portugal será, no futuro, um país de emigrantes ou imigrantes. Também não é possível quantificar o atual fluxo migratório português de forma a perceber se se assemelha ao dos anos 60.

"A emigração atual passa-se sobretudo no espaço Schengen e já não há passaportes. Na emigração dos anos 60 e 70, de forma irregular, do ponto de vista português, não há dados fiáveis sobre as saídas, mas há dados fiáveis sobre as entradas. No caso atual há vários meios de saber, mas demora um pouco e não se pode saber, por ano, quantas pessoas emigraram", referiu.

"A outra diferença é que o fluxo é mais diversificado". Nos anos 60 e 70 o fluxo seguia sobretudo para França, Suíça, Luxemburgo e um pouco para a Alemanha.

Hoje em dia, em função das oportunidades de trabalho, das redes sociais e dos fluxos de emigração, há uma maior dispersão e já não há um país que recebe a maioria dos emigrantes, como aconteceu com a França no passado.

"Já não se pode pensar em emigração como a saída de um ponto 'A' até um ponto 'B'. Muitas vezes há uma circulação migratória em função das oportunidades e dos relacionamentos", concluiu o historiador luso-francês.

Jornal de Notícias, aqui.

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