A chegada de novos emigrantes a França "travou a tendência para a quebra brutal" do número de Portugueses no país, afirmou em
Hendaye, o sociólogo Jorge Portugal Branco, da Embaixada de Portugal em Paris.
A intervir no colóquio "Emigração portuguesa nos anos de 1960 para a França e para a Europa", que decorreu em novembro na simbólica fronteira entre Espanha e França, por onde largos milhares de Portugueses passaram para emigrar no século passado, o sociólogo sublinhou, contudo, que essa tendência de decrés-cimo do número emigrantes que possuem unicamente a nacionalidade portuguesa se mantém.
"Nos anos de 1990, havia cerca de 645 mil pessoas unicamente de nacionalidade portuguesa em França. Dez anos depois, havia cerca de 550 mil. Há uma quebra de 100 mil pes-soas no efetivo. Atualmente, de acordo com os últimos dados, de 2009, há cerca de 490 mil. Na maioria dos departamentos do país em que havia uma quebra importante do efetivo surge uma diminuição muito menor entre o ano de 2009 e o ano de 2010 do que nos últimos 20 anos", ilustrou. Ou seja, acrescentou, "as novas chegadas travaram a tendência para a quebra brutal do efetivo, embora não a compensem".
Jorge Portugal Branco explicou ainda que, em termos gerais, e apesar destas oscilações, a Comunidade portuguesa em França é estável, e
está estimada em cerca de 1,2 milhões de pessoas, entre os que têm apenas a nacionalidade portuguesa, os que têm dupla nacionalidade,
e os que, mesmo tendo apenas a nacionalidade francesa, são de origem portuguesa.
Depois de analisar um cálculo do número de portugueses nos 95 departamentos administrativos de França, o sociólogo identificou uma
nova geografia migratória. "Os Portugueses que estão a chegar agora não se estão a concentrar nos sítios habituais. Dantes, metade dos países
vivia na região parisiense, que continua a ser muito importante, mas os que estão a chegar dispersam-se pelo conjunto do território, e,
principalmente, de maneira sensível e em zonas onde havia muito poucos Portugueses, como Provence-Alpes-Côte d'Azur", explicou. Por exemplo, na Corse o número de Portugueses duplicou. Eram cerca de 3.500 no ano 2000, hoje são cerca de 6 mil, segundo o sociólogo. Em causa estão "zonas onde há turismo, nas vertentes do setor hoteleiro e restauração, mas também a cultura arvense, a horticultura, etc".
Para o sociólogo, este cenário "permite avançar a hipótese - só a hipótese, que não está confirmada - de que os novos fluxos que estão
a chegar sejam compostos, por um lado, por um número menor, mas real, de profissionais do turismo formados nessa área, e, por outro
lado, por mão-de-obra agrícola, tradicional, vinda das zonas de onde há 40 anos já vinham pessoas, e que começa imediatamente a utilizar o seu ‘know how' no trabalho na terra".
"A emigração portuguesa trouxe milhares de braços e uma capacidade de trabalho que vinha responder a uma necessidade em França, e que a população ativa francesa não podia preencher, de construir um país inteiro", concluiu.
Lusojornal, n.º 110, Série II, ver também o restante dossier "Especial - Onde estão os portugueses de França?", aqui.