Afonso, Ricardo e Rodolfo, tal como tantos outros jovens emigrantes portugueses, vão pela primeira vez, este ano, passar o Natal longe de casa e da família, um sacrifício compensado pelas oportunidades de trabalho já conseguidas no estrangeiro.
A crise, a austeridade, a falta de oportunidades de emprego e uma classe política descredibilizada levaram estes três jovens a perder a esperança no seu país e a tomar uma decisão: "Fazer as malas e ir embora sem data para voltar".
Ainda não têm um plano definido, mas a vontade de partir e a determinação em mudar de vida foram maiores.
"Já nada me agarrava a Portugal. Além da minha família e dos meus amigos, já nada me prendia. Estava triste, desanimado, trabalhava numa loja de roupa para ganhar meia dúzia de tostões e não tinha perspectivas de arranjar trabalho na minha área quando acabasse o curso", disse à Lusa Rodolfo Leitão, 23 anos, que em Agosto decidiu ir para o Rio de Janeiro, no Brasil.
A adaptação à vida na ‘cidade maravilhosa' foi rápida e, logo na primeira semana, Rodolfo conseguiu arranjar um estágio num escritório de advogados e começou a dar explicações a crianças.
Hoje, ao fim de cinco meses, já não pensa em regressar a Portugal, que vê agora como um "destino de férias e não um lugar para viver".
Apesar da felicidade com a nova vida, em vésperas de Natal as saudades da família já apertam e "essa é a parte que custa mais".
"Quando vim para esta aventura já sabia que seria impossível pagar a viagem. Ia-me custar cerca de 1.500 euros e isso equivale quase a quatro rendas de casa e por isso optei por não ir para conseguir poupar mais dinheiro", contou.
O Natal de Rodolfo vai então ser passado com mais cinco amigos portugueses, em calções e chinelos, ao invés de gorro e do cachecol, e o bacalhau não vai faltar.
"Estávamos a pensar fazer um bacalhau assado no carvão, que tem mais a ver com este clima. Fazemos uma salada, mais umas cervejinhas geladas e, apesar da saudade, espero que dê para curtir uma óptima ceia de Natal junto da minha nova família de emigrantes", disse.
Afonso Pereira e Ricardo Santos estão a viver mais perto, em Londres, mas também não vão passar o Natal a casa.
Há menos de um ano na capital inglesa, Afonso Pereira, 27 anos, está seguro de que este será o pior Natal da sua vida, porque, pela primeira vez, vai ser passado longe dos pais, dos avós, dos sete irmãos e dez sobrinhos, que, na noite de 24 de Dezembro, se juntam sempre para passar a consoada.
"Tenho tantas saudades deles todos. Desde sempre que o ritual lá em casa é juntar a família toda e custa-me muito que este ano não possa lá estar, mas foi esta a decisão que tomei e tenho de fazer o sacrifício", afirmou.
O novo emprego, numa loja de artigos para desporto, impede-o de viajar até Portugal nesta época, mas não exclui o regresso definitivo.
"Não penso ficar aqui para sempre. Mais um ano ou dois, para juntar mais algum dinheiro, e depois regresso ao meu país, que, apesar de estar cada vez pior, é a minha casa e onde tenho aquilo que me faz mais feliz", concluiu Afonso.
Ricardo Santos vive também em Londres e, "por razões de trabalho", este será também o seu primeiro Natal longe de casa.
"Deixa-me triste o que está a acontecer em Portugal. É uma fase complicada e várias famílias, como a minha, são afectadas por esta situação e são obrigados a ser mais flexíveis e a fazer esforços que há uns anos não eram precisos e eu tive de emigrar", contou.
O Natal de Afonso e Ricardo, que já se tornaram amigos e agora partilham a morada, vai ser passado em casa com amigos de outros países e cada um vai tentar levar um pouco do seu país para a noite da consoada.
Lusa/SOL, aqui.