Por Susana Lage
António Branco foi um dos investigadores portugueses envolvido no estudoMuitas
línguas europeias enfrentam um futuro incerto em termos da sua
sobrevivência na Sociedade da Informação, adverte um recente estudo
realizado por investigadores europeus em tecnologia da linguagem.
A investigação, elaborada por mais de 200 especialistas e documentada numa colecção de Livros Brancos, avaliou o nível de desenvolvimento da tecnologia da
linguagem para 30 das cerca de 80 línguas europeias existentes e
concluiu que em 21 delas este é, na melhor das hipóteses, ‘nulo' ou
‘fraco'. No caso da língua portuguesa,
apesar de ser a quinta mais falada no mundo, com cerca de 220 milhões de
falantes em quatro continentes, o que o Livro Branco indica é que, "dependendo das diferentes vertentes em análise, o desenvolvimento da
tecnologia da linguagem para a língua portuguesa apresenta um nível
muito baixo, ou mesmo nulo, na generalidade dessas vertentes", afirma António Branco ao Ciência Hoje.
Segundo o investigador da Universidade de Lisboa envolvido neste estudo, isto revela que "em
termos de tecnologia da linguagem e de preparação para a era digital, a
língua portuguesa se encontra próximo de outras línguas faladas por
comunidades bem mais minoritárias e exposta a riscos similares quanto à
sua sobrevivência na era digital".
Tecnologia da linguagemAs
revoluções tecnológicas que no passado envolveram a linguagem natural
(o advento da escrita, a imprensa mecânica, etc.), levaram a que muitas
línguas perdessem a sua relevância e algumas acabassem por se extinguir à
medida que os seus falantes deixavam de poder beneficiar desses avanços
tecnológicos. "Para uma língua prosperar na era digital que se
avizinha, é necessário que esteja devidamente equipada do ponto de vista
tecnológico de forma a poder ser usada para se aceder a todas as
pessoas, serviços e bens que irão ficando disponíveis apenas na e
através da sociedade da informação", afirma António Branco.
De acordo com o investigador português, "a tecnologia da
linguagem é o novo factor disruptivo que está a desencadear uma nova
revolução tecnológica, sem precedentes, para a linguagem natural. Apenas
a tecnologia da linguagem desenvolvida e adaptada especificamente para a
uma dada língua permitirá que esta sobreviva na era digital e que os
seus falantes e a sua cultura tenham assegurada uma cidadania plena na
sociedade da informação".Em face destes resultados, no Livro Branco para o português é assinalado que "são necessárias medidas imediatas para que se possam obter progressos
importantes para o português assegurar a sua posição como língua
internacional de comunicação", refere. "Uma dessas medidas é a adesão de Portugal à recém criada Infraestrutura Europeia de Investigação CLARIN, dedicada à ciência e à tecnologia das linguagens naturais", ilustra.
O Livro Branco para a língua portuguesa vai ser lançado no próximo dia
16, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Trata-se de uma obra
dirigida a um público o mais vasto possível, não especializado nestas
matérias, incluindo comunidades linguísticas, jornalistas, políticos ou
docentes, entre muitos outros.
"As consequências desejáveis são as de que as suas conclusões
ajudem a desenhar as melhores políticas da língua para o português e as
melhores políticas de apoio à ciência e tecnologia da linguagem aplicada
ao português, em vista do superior interesse da língua portuguesa", diz António Branco.
Uma vez identificadas as principais lacunas na investigação sobre a
tecnologia da linguagem aplicada ao português, os próximos passos na
investigação serão assim o "desenvolvimento de recursos
linguísticos e ferramentas de processamento específicos, por toda a
comunidade que trabalha sobre a língua portuguesa, que possibilitem
caminhar no sentido de eliminar estas lacunas, desde que este trabalho
seja apoiado por políticas de desenvolvimento científico e tecnológico
adequadamente planeadas", avança o professor.
Ciência Hoje, aqui.