"Neste momento, estamos a tentar desenvolver uma mentalidade por causa desta nova leva de emigração e que está a começar na Suíça, com a criação, a partir das missões, de uma espécie de famílias de acolhimento para os novos emigrantes", disse à agência Lusa o diretor da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCMP).
Estas "famílias de acolhimento" visam acompanhar e ajudar a integrar os emigrantes que não têm familiares ou "pontos de referência" naquele país.
"É uma forma de não se sentirem isolados e sozinhos num país que não é o seu e que, às vezes, nem entendem a língua", comentou o frei Francisco Sales Diniz.
O responsável compara a atual vaga de emigração à registada na década de 60/70, ressalvando que nessa altura era fácil contabilizar a emigração, o que já não é possível atualmente devido à abertura das fronteiras e ao espaço Shenghen.
Dados divulgados pelo secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, indicavam que, em 2011, emigraram 150 mil portugueses. "Se olharmos para os anos 60, em que emigraram cerca de um milhão de portugueses, se tivermos uma média de 100 a 150 mil a saírem de Portugal, ainda é mais do que nesses anos", observou Sales Diniz.
Desde a década de 60 houve uma alteração do perfil do emigrante: "Nos anos 60 emigravam principalmente as pessoas do mundo rural, da classe mais baixa, com menos formação, agora emigra toda a gente e pessoas altamente qualificadas", a maioria jovens, mas também muitas famílias.
"No geral, são pessoas que têm compromissos económicos com a banca, porque compraram casa ou outros bens, e que emigram para honrar esses compromissos e não perder os investimentos de uma vida", destacou.
A maioria dos emigrantes continua a emigrar para a Suíça, França e Alemanha, mas muitos estão a optar pelo Brasil e Angola. Alguns escolhem o Luxemburgo, apesar de este país já estar "bastante "saturado".
"O que se nota hoje é que todos esses países procuram uma mão-de-obra muito mais qualificada", sublinhou.
Para o frei, os portugueses que emigram atualmente estão mais informados sobre o tipo de trabalho que vão fazer no estrangeiros e mais "precavidos" sobre situações de exploração que possam ocorrer.
Para tal, contribuiu as situações que aconteceram no final do ano passado na Suíça e na Inglaterra de muitas pessoas que emigraram sem terem pontos de contactos, nem contratos de trabalho, e que ficaram em "situações muito precárias".
A divulgação destas situações na comunicação social e uma campanha que a Secretaria de Estado das Comunidades está a desenvolver contribuíram para que "as pessoas emigrem mais informadas, mais precavidas e não se lancem à aventura", disse, adiantando não ter conhecimento, neste momento, de portugueses em situações difíceis no estrangeiro.
Segundo o responsável, as missões da Obra Católica nas várias comunidades têm recebido pedidos de ajuda de portugueses em dificuldades, mas que não querem regressar a Portugal devido a "uma certa vergonha por terem falhado" o seu projeto de vida no país de acolhimento.
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