Pascal Gonçalves da empresa "Maison au Portugal" e da Associação dos Industriais de Construção de Edifícios, disse à Lusa que, depois da onda de emigrantes que construíam a casa na terrinha, às vezes com gosto urbanístico questionável, os filhos destes emigrantes continuam a investir em Portugal, mas "já não acrescentam tijolo à casa dos pais".
"Eles continuam a olhar para Portugal, mas agora fazem-no como um estrangeiro e procuram o que de melhor Portugal tem. Já não procuram ter uma casa na terra onde os pais nasceram", afirmou.
Este empresário, ele próprio lusodescendente, destacou que os mais jovens estão "agora a acompanhar a tendência de comprar casa junto aos grandes centros urbanos, em Lisboa e no Porto principalmente, e sobretudo no Algarve, onde compram "casas baratas, até cerca de 150 mil euros".
"Comprar casa na terriola é um mau investimento e eles já perceberam isso. Além de que muitos já têm casas nas terrinhas que herdaram dos pais e não conseguem desfazer-se delas por causa do mercado. Agora procuram novos investimentos noutros locais", salientou.
Para Hermano Sanches Ruivo, presidente da associação Ativa - Grupo de Amizade França Portugal, muitos dos emigrantes e lusodescendentes estão a reequacionar os seus investimentos em Portugal, até porque "quase todos têm já pelo menos uma casa na região de onde eram originários e onde alguns ainda nasceram, por isso construir uma casa na vila dos pais não é lógico".
"A casa da aldeia já é nossa. São muitos os pais que vinham da mesma região, mas em muitas situações também vem de regiões diferentes e então não há uma casa: há duas casas", realçou.
Daí que a segunda geração mantém com Portugal uma relação "mais escolhida e menos obrigatória".
"É uma relação onde há um certo distanciamento. Já não vamos apenas a Portugal para visitar a família. Já aproveitamos as férias para visitar outros países", afirmou.
Sanches Ruivo destaca que muitos também já não querem ir só para o Algarve, mas "descobriram o Alentejo e a costa vicentina e outras regiões com praia não muito longe das regiões de origem".
Quando se coloca a questão de uma segunda casa para férias, mesmo para quem já é casado com franceses ou pessoas com origens noutros países, "há uma preferência por Portugal, porque já não é muito longe, porque há avião, há autoestrada e porque são raros os cônjuges que não são de origem portuguesa que não gostam de Portugal".
"Portugal ainda não compreendeu. Ainda não deixou esse mercado da saudade para passar ao mercado muito mais evoluído, muito mais complexo, mas também muito gratificante que é o mercado de uma segunda geração, que não tem uma ligação afetiva automática unilateral, mas que coloca perguntas, quer respostas, quer ter certezas, quer ter apoios na simplificação de tarefas administrativas", considerou.
Hermano Sanches Ruivo realçou que a prova é que a palavra que é utilizada para definir os lusodescendentes continua a ser "emigrantes".
"Mas nós já não somos emigrantes. Não nos confundimos com a nova geração de emigrantes portugueses. Na comunidade portuguesa somos filhos de emigrantes, mas já não somos emigração. E aqui nota-se uma falta de ‘up date' de compreensão por parte das estruturas portuguesas, que mantém uma visão antiquada e não completa", concluiu.
Diário Digital com Lusa, aqui.