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Construir casa na terra já não é o sonho do emigrante
2012-08-20
Regressar e construir casa já não é o sonho dos novos emigrantes do norte do distrito de Viseu e a economia local, mais intensamente na construção civil, ressente-se, porque a ligação à terra tem hoje outro "cimento".

por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral

Empreiteiro e antigo emigrante na Suíça, José Carvalho, com quem a agência Lusa falou em Moimenta da Beira, não tem "a mais pequena dúvida" de que "já são poucos" os emigrantes que regressam para construir casa na sua terra.

"Já lá vai o tempo em que no verão os pequenos empreiteiros viam no regresso dos emigrantes uma boia de salvação. Hoje é meia dúzia que constrói casa. E nós sentimos esta nova realidade mais que ninguém", contou.

Tudo fica mais claro quando se escuta a razão pela qual Rosa Silveira, emigrada na Alemanha, não repetiu a opção dos seus pais, também emigrantes, que "assim que puderam, construíram a casa".

"Tenho os meus dois filhos numa escola com condições que as escolas aqui não têm, compramos casa na Alemanha e duplicar aqui esse investimento não faria sentido", sintetizou.

Como tantos outros que integram esta dobra geracional de emigrantes, Rosa Silveira afiança uma "estreita ligação à terra", mas com uma nuance que faz toda a diferença: "Em agosto passamos aqui uma semana para ver família e amigos e depois vamos para a praia".

"São outros horizontes, outra mentalidade", frisou José Filipe Carvalho, jovem arquiteto de Moimenta da Beira, exemplificando com aquilo que é a postura dos emigrantes que ainda apostam na construção da casa: "Tenho casos em que as pessoas chegam, tratam do processo e depois vão de férias para as Caraíbas?".

No entanto, são ainda os emigrantes que emergem deste mar de dificuldades como tábua de salvação para alguns pequenos empreiteiros, como é o caso de Alfredo Soares, de Vila Nova de Paiva, também ele antigo emigrante.

"Hoje vivemos todos mais apertados. Ainda tenho projetos em mão. Nada como há uns anos, mas é (os pedidos de construção de emigrantes) o que ainda nos vai safando", contou este empreiteiro à Lusa.

Realidade a que acrescentou outro dado que ajuda a perceber esta mudança quase radical do olhar dos emigrantes sobre a ligação à terra natal: "Mesmo aqueles que optam por construir casa, com a crise que por aqui vai, não ficam?".

José Morgado, presidente da câmara de Vila Nova de Paiva, assegura que não se confronta com "uma quebra acentuada" dos pedidos de licenciamento, mas sublinha que "há uma alteração importante" em relação ao passado", que passa pelo desvio do investimento em casas de habitação para "estruturas empresariais", com, no seu concelho, preponderância para a área de avicultura.

Também em Moimenta da Beira, segundo fonte do executivo, no mês de agosto "dobram os pedidos de licenciamento" para construção de casas, em grande medida devido aos emigrantes.

Só que, se, por exemplo, em junho entraram na autarquia sete pedidos de licenciamento, em agosto este número triplica mas fica muito aquém da realidade de há 15, 20 anos, apesar de o número de emigrantes não parar de aumentar.

Na povoação de Touro, Vila Nova de Paiva, Jorge Pinto é da velha guarda de emigrantes que foi para a Holanda na década de 1980, regressou em 1992, e fez o que então se esperava: construiu casa e montou um negócio, o Café Holandês por baixo e o Cabeleireiro Holandês por cima.

Mas não perde a oportunidade de se colocar em sintonia com estes novos tempos ao afirmar que "as pessoas agora não voltam porque não têm confiança", concluindo: "Percebo-os muito bem".

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