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Comunidades: Emigrantes que chegam em França vivem pior do que em Portugal -- empresário
2012-07-29

Paris, 29 jul (Lusa) -- Victor Maia, emigrante em França há 32 anos, proprietário de um restaurante nos arredores de Paris, já deu emprego a diversos portugueses, e diz que muitos chegam "mal informados" e alguns ficam a viver "pior" do que em Portugal.

O restaurante de Victor Maia é de "comida portuguesa, servida à portuguesa". Por isso, ele opta por não empregar senão portugueses, explicou à Lusa. No último ano teve quatro empregados, dois viviam em França, mas os outros dois chegaram de Portugal.

"As pessoas vêm com uma ideia errada porque pensam que, chegando a França, ficam logo ricas. Mas a França hoje já não é assim. Tem que se trabalhar. E já não se ganha tanto como se ganhava antigamente. É uma ilusão vir para França, é uma grande ilusão", considerou.

Para este pequeno empresário, que tem também uma mercearia e uma churrasqueira, as pessoas saem de Portugal "mal informadas", e acabam por ficar em França a viver "pior" do que viviam. E exemplificou: "A cozinheira que eu tinha aqui, e que se despediu há pouco tempo, ganhava 1500 euros. Tinha três filhos menores e um aluguer [de casa] de 1 100 euros. Não sei quanto é que o marido ganhava, mas não dá para viver muito à larga", disse.

E depois, acrescentou, "há muita gente que tem que pagar uma renda de casa em Portugal, e ainda tem que pagar um aluguer aqui, apesar de ganhar praticamente o mesmo salário".

"As pessoas informam-se mal, não estão ao corrente do que é a vida. Eles veem-nos chegar a Portugal com a vida mais ou menos organizada, mas nós estamos aqui há 30 anos a trabalhar", acrescentou. Victor Maia costuma ajudar os seus empregados e as respetivas famílias a instalarem-se em França. Para além de lhes dar trabalho, tenta arranjar emprego ao cônjuge do empregado, ajuda a família a encontrar casa, a inscrever-se na segurança social e a matricular as crianças na escola.

Contudo, lamentou, pela sua experiência, quando os empregados começam a "conseguir organizar-se sozinhos" vão embora, muitas vezes "sem um 'obrigado' dizerem".

"Talvez haja patrões que trazem as pessoas e não lhes pagam, mas há muitos patrões que sofrem [por empregar trabalhadores portugueses]: trazem as pessoas, ajudam-nas. Depois, quando elas começam a organizar-se sozinhas já não precisam de nós", disse.

Em junho, nas II Jornadas Sociais da Santa Casa da Misericórdia de Paris, sobre "novos fluxos da emigração portuguesa", o embaixador de Portugal em França, Francisco Seixas da Costa, alertou para a necessidade de haver "alguma consciência" por parte de quem chega "relativamente ao limite que a solidariedade tem".

"Já assisti a queixas, por parte de vários empregadores, de que os portugueses que chegam saltam rapidamente de um emprego para outro, em função de novas oportunidades. Isso cria uma sensação de instabilidade e de falta de estímulo entre os empregadores", explicou.

As autoridades portuguesas estimam que, por ano, entre 120 e 150 mil portugueses abandonem o país.

JYF Lusa/fim

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