Eleitos nas Legislativas de junho último, Christine
Pires Beaune, Carlos da Silva e Patrice Carvalho ocupam três lugares na
Assembleia Nacional de França. Nunca houve três deputados nacionais
oriundos da comunidade portuguesa em França, mas tendo em conta a
dimensão e o tempo de presença dessa mesma comunidade naquele país,
pergunta-se se este número não daria ter sido maior.
"Eu só vejo o
lado positivo da eleição de três luso-franceses para a Assembleia
Nacional de França", sublinhou a O Emigrante/Mundo Português o deputado
Carlos Gonçalves, tendo acrescentado que para além dos eleitos, " houve
várias dezenas envolvidos na campanha eleitoral". "Uns perderam, outros
ganharam, é assim", afirmou o parlamentar social-democrata, eleito pelo
círculo da Emigração, lembrando que os candidatos concorreram por
círculos uninominais. "Não é como em Portugal que as listas permitem a
eleição do 5º, 6º, 7º (candidato). Ali não, têm que ser os melhores de
cada partido para ganharem a eleição naquele determinado círculo. E
houve muitos portugueses que foram escolhidos por forças políticas como
os melhores", explicou.
Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade
Portugal-França, Carlos Gonçalves diz que há "claramente" uma maior
participação da comunidade portuguesa nas eleições em França, algo que
presenciou na campanha eleitoral de junho. "Participei de várias
iniciativas de campanha de vários candidatos de diferenças forças
políticas e nunca vi um envolvimento tão grande da comunidade
franco-portuguesa numa eleição, como nesta", afirmou a este jornal,
defendendo que "a ideia de que a comunidade portuguesa tem pouca
visibilidade e peso político", demonstra "algum desconhecimento sobre a
realidade da comunidade portuguesa em França".
A visão «positiva» dos
resultados é partilhada por Paulo Marques, presidente da Cívica
(Associação de autarcas portugueses e luso franceses em França). "São
577 deputados, há três e origem portuguesa. Nunca houve e é incrível",
destacou. O também conselheiro das Comunidades Portuguesas e presidente
da Comissão Permanente da Participação Cívica e Política daquele
organismo definiu como "algo de muito importante", o facto de haver "uma
maior participação cívica e política". "De há 15 anos para cá, os
jovens com maior idade estão inscritos automaticamente nas listas
eleitorais, e dessa medida vê-se a diferença", defendeu, sublinhando
porém, que a visibilidade da comunidade portuguesa "tem que passar
também por outras vias", entre as quais a existência de "mais de 45 mil
empresas de portugueses". "Passa ainda pelo ensino do português,
enquanto língua de cariz económico, numa aprendizagem mais profissional.
Se o Carlos Gomes é presidente da Renault, é também porque fala
português. Temos que aproveitar essas mais-valias e depois congregá-las,
fazer com que todos trabalhem conjuntamente", afirmou.
Lado menos bom...
Já
Paulo Pisco diz que "há um lado bom e outro menos bom". O deputado
socialista, também eleito pelo círculo da Emigração aponta como fator
positivo o aumento da participação dos portugueses na vida política
francesa, tanto a nível local, como na Assembleia Nacional. Mas lamenta
que essa presença ainda seja "diminuta em comparação com a dimensão da
comunidade". Entretanto, afirma estar convencido que o facto de haver
progressivamente mais portugueses "a ganhar posições de destaque na vida
política francesa", acabará por chamar a atenção dos portugueses "para a
importância da vida política e arrastar outros também para essa
atividade", "E assim ganharmos cada vez mais influência a nível de todas
as instâncias políticas francesas", acredita.
Hermano Sanches Ruivo
concorda que três deputados "é pouco" e que se esperava mais. Mas
explica que "num sistema francês com uma bipolarização, se os partidos -
o principal de esquerda e o de direita - não fizerem tudo para que os
candidatos estejam em situação de serem eleitos, estes não serão".
"Portanto, houve muito mais candidatos de origem portuguesa, mas por
pequenos partidos e em locais onde não tinham hipótese de ganhar",
recordou o conselheiro da Câmara Municipal de Paris.
Sanches Ruivo
diz ainda que o interesse e vontade política da comunidade luso-francesa
"só agora começa a aumentar" e nesse sentido, a eleição de três
luso-franceses "é uma boa notícia". "As coisas estão a avançar e estes
três eleitos são claramente os primeiros de um número que só poderá vir a
aumentar. Agora, vai aumentar, mas dentro de cinco anos, nas próximas
eleições", acrescenta.
O também presidente da Activa - Grupo de
Amizade França Portugal concorda que tendo em conta a dimensão da
comunidade portuguesa, poderia ter havido um número maior de deputados
eleitos e lembra que "em França há um Senado e não temos nenhum
senador". Mas pede atenção aos portugueses e luso-franceses que exercem
cargos políticos a nível autárquico. "Já temos dois mil (eleitos) nas
cidades, embora 75 por cento em cidades com menos de cinco mil
habitantes. Se calhar entre esses, há 200 com poder camarário. São esses
números que é preciso acompanhar", alerta. "Acredito que estejamos numa
fase ascendente em termos de visibilidade", sublinha.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
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