A falta de um cônsul ou de cônsul honorário que possa representar a
comunidade junto dos órgãos do governo bermudiano é uma das principais
reivindicações da comunidade portuguesa estabelecida na Bermuda.
O assunto, que continua por resolver apesar das sucessivas promessas do
Governo da República, foi colocado à Diretora Regional das Comunidades
durante a visita que concluiu ontem à Bermuda.
Na reunião que manteve com a Direção do Clube Vasco da Gama, a única
instituição que naquele território acolhe, defende e representa toda a
comunidade portuguesa, na sua vastíssima maioria açoriana, Graça
Castanho "anotou" esta situação que preocupa verdadeiramente a
comunidade portuguesa, a braços com questões de natureza laboral e
obtenção de autorização de residência, entre outros assuntos.
Presentemente, a comunidade da Bermuda conta apenas com uma presença
consular, em que uma funcionária oferece aos utentes os procedimentos
consulares mais elementares, sem capacidade de representação diplomática
ou decisão de matérias mais delicadas.
A Diretora Regional das Comunidades participou também nas Festas do
Espírito Santo, organizadas pela comunidade açoriana, na cidade de St.
George, a qual contou com elevada afluência de açorianos de diferentes
gerações, população local e turistas.
Terminada a vertente religiosa das festas, Graça Castanho dirigiu
algumas palavras à numerosa comunidade, lembrando o contributo relevante
que, de longa data, os açorianos têm dado no desenvolvimento, qualidade
de vida e profissionalismo que caracterizam a Bermuda da
contemporaneidade.
Lembrou igualmente a importância da preservação do património açoriano
em terras bermudianas, com destaque para as Festas do Espírito Santo,
uma prática religiosa secular que tem acompanhado até aos nossos dias as
comunidades açorianas radicadas pelo mundo fora. Num gesto de
reconhecimento e do orgulho que toda a família açoriana tem nos
voluntários que promovem os Açores no estrangeiro, a Diretora Regional
ofereceu uma placa da DRC com palavras de agradecimento.
No recinto, para além do encontro com açorianos que desempenham um papel
relevante na vida da nossa comunidade, teve a oportunidade de assistir a
diferentes espetáculos de música e a outros momentos repletos de
açorianidade.
O sucesso das Festas ao Divino Espírito Santo deveu-se ao trabalho
denodado da comissão e ao contributo dado pelo Clube Vasco da Gama
através da presença da sua marcha, teatro, folclore e foliões. Pela
qualidade do trabalho desenvolvido pela equipa liderada pela sua
presidente, Dr.ª Andrea DeSousa, a Diretora Regional das Comunidades
prestou uma homenagem ao Clube Vasco da Gama pelo trabalho realizado em
torno das questões da preservação da cultura e integração das
comunidades.
Entrevistada pelo Bernews, um jornal online muito respeitado e lido
pelos Bermudianos, Graça Castanho teve a oportunidade de lembrar que os
açorianos, pela história que comungam com os primeiros colonos chegados
àquelas ilhas, desde o séc. XVII, "não devem ser vistos como uma minoria
étnica, nem ter o tratamento das minorias ou imigrantes chegados há
escassas décadas ou anos".
Ainda a este propósito, defendeu que "o nosso papel na cofundação e
construção da Bermuda tem sido de tal maneira relevante para estas ilhas
que não podemos ser confundidos com os grupos de imigrantes cuja
presença na Bermuda, apesar da sua importância, não têm a história e o
passado das comunidades açorianas".
Logo a seguir à dominação britânica e à chegada de escravos de África,
começaram a chegar os Açorianos que partilharam as mesmas dificuldades
vividas pela população negra. "A nossa carga genética está diluída por
toda a população. Basta folhear uma lista telefónica para perceber a
força da nossa comunidade, basta falar com as pessoas de raça branca ou
negra para perceber quão abrangente foi a miscigenação de que fomos
autores, basta ver os nomes portugueses que se distinguem em todas as
áreas políticas e sociais da Bermuda para percebermos que não somos uma
minoria nem devemos ser tratados como tal", argumenta Graça Castanho.
Conforme sublinhou, "é devido ao número surpreendente de açorianos que
vivem nestas ilhas que a língua portuguesa é a segunda língua de
comunicação na Bermuda e está presente nas caixas multibanco, no
comércio e nos negócios, a par do inglês".
Durante a sua visita, Graça Castanho manteve igualmente uma reunião de
trabalho com o Vice-Presidente dos Serviços Académicos do Bermuda
College, na qual foram delineados alguns projetos a promover em parceria
com a Direção Regional das Comunidades, Clube Vasco da Gama e
Universidade dos Açores.
GaCS
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