Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires (www.expresso.pt)
Engenheiros e arquitetos portugueses terão um novo mercado de trabalho do outro lado do Atlântico. Num ano, o Governo brasileiro pretende reconhecer os diplomas desses profissionais portugueses e abrir as suas portas a uma onda de imigrantes altamente qualificada.
"Isso é viável no curto prazo para os profissionais que vêm de universidades portuguesas que têm excelência em ensino. Acredito que o processo possa levar no máximo um ano, mas espero que até o final deste possamos dar resposta a isso. Vamos trabalhar fortemente para poder reconhecer esses diplomas", antecipou ao Expresso o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, ex-senador e homem forte do Partido dos Trabalhadores de Lula e Dilma Rousseff.
Essa será a resposta que Mercadante dará ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, quando se reunirem na semana que vem no Rio de Janeiro durante a conferência Rio +20. Em maio, o ministro Paulo Portas pediu a Aloízio Mercadante o reconhecimento dos diplomas portugueses nas áreas de engenharia e arquitetura.
"Não sei quantos profissionais portugueses seriam beneficiados, mas Paulo Portas disse-me que é um número considerável", disse o ministro.
"A decisão de validar os diplomas não depende do Ministério da Educação, mas das universidades públicas. Temos que dialogar com as universidades para ver qual é a dimensão da procura de profissionais portugueses e para verificar quais as universidades portuguesas que têm excelência em formação em Engenharia e em Arquitetura para serem certificadas", explicou Mercadante. "Há institutos de engenharia em Portugal de alto nível internacional. Esses diplomas, por exemplo, terão com certeza mais facilidade em ser reconhecidos", indica.
Segundo o ministro brasileiro, o Brasil tem todo o interesse em atrair tanto os brasileiros que foram embora no passado e que se formaram no exterior como os profissionais qualificados de outras origens.
"O Brasil viveu uma diáspora de cérebros no passado durante a crise. E hoje o Brasil é um pólo de atração forte. Há um grande interesse na situação atual", avalia.
"O nosso maior desafio é aproveitar esse momento para desenvolver essas áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação. Preparar o país para uma sociedade do conhecimento, dar um salto no sector exportador de futuro e produzir com qualidade", projeta Mercadante.
No caso da Medicina, o Brasil possui o programa Revalida através das universidades federais (nacionais). Uma vez por ano é feito um exame que certifica os diplomas de medicina. Além disso, algumas universidades estaduais reconhecem o diploma independentemente do Revalida.
"O Brasil tem uma oferta de médicos baixa comparado com outros países da região. Tem 1,9 médicos para cada 1000 habitantes enquanto o Uruguai, por exemplo, tem 3,7 e a Argentina 3. Há uma procura forte de médicos que querem trabalhar no Brasil", aponta.
No programa brasileiro Ciência Sem Fronteira, dois dos cinco tipos de bolsas são para atrair jovens e talentosos doutores para o Brasil. Outro exemplo são os investigadores seniores. Durante três anos, profissionais do mais alto nível passam três anos no Brasil em universidades ou em centros de pesquisa.
Para Portugal, Mercadante indica o programa Ciência Sem Fronteiras como o melhor instrumento de integração profissional. O Brasil quer fortalecer o programa com Portugal.
"Houve uma procura incrível de alunos para ir a Portugal. Foi surpreendente. Vamos mandar um volume grande alunos para lá", adianta. "A minha proposta com Portugal é fortalecer o Ciência Sem Fronteira para os professores e investigadores que quiserem ir para o Brasil. Ficar um período no Brasil, podendo depois voltar a Portugal. E não ter uma relação oportunista como outros países têm de num momento de crise como nós já vivemos ir lá atrair os talentos", conclui Aloízio Mercadante.
Expresso, aqui.